Fé que Move Montanhas: Devoto Percorre 300 km Carregando Cruz de 150 kg em Homenagem a Nossa Senhora Aparecida
Fé em movimento: 300 km com cruz de 150 kg

Imagine carregar nos ombros o peso equivalente a dois homens adultos. Agora imagine fazer isso por 300 quilômetros, sob sol escaldante e chuva, durante doze dias inteiros. Parece impossível? Para Ademir de Paula, de 47 anos, é apenas mais uma forma de demonstrar sua fé inabalável.

O pedreiro natural de Apiaí, interior de São Paulo, transformou-se em uma espécie de atlas moderno — mas em vez do mundo, carrega uma cruz de madeira maciça que desafia as leis da física comum. São 150 quilos de devoção pura, que ele arrasta desde sua cidade natal até o santuário nacional em Aparecida do Norte.

Uma Promessa que Pesa — Literalmente

"Não é só madeira que eu carrego", confessa Ademir, com aquela voz cansada mas determinada que só quem tem um propósito maior conhece. "Cada quilo representa uma graça recebida, uma dificuldade superada."

A rotina é brutal — acordar antes do sol, caminhar cerca de 25 quilômetros por dia, parando apenas para refeições rápidas e o descanso mínimo necessário. A cruz, construída por ele mesmo com madeira de eucalipto, possui rodinhas na base para facilitar o transporte, mas mesmo assim exige força sobre-humana para ser manuseada.

Os Desafios do Caminho

Estradas esburacadas, subidas intermináveis, motoristas curiosos — e às vezes perigosos — que param para fotografar ou oferecer ajuda. O percurso pela Rodovia Presidente Castelo Branco se transforma num misto de via crucis pessoal e espetáculo improvisado.

"Tem gente que buzina, some, outros param pra rezar comigo", conta ele, com aquela paciência de quem já viu de tudo. "Uma senhora uma vez me ofereceu dinheiro, pensei que eu estava pedindo esmola!"

Fé que Alivia o Peso

O que move um homem a tamanho sacrifício? Ademir explica com a simplicidade de quem fala do óbvio: "Quando a gente tem fé, o peso fica leve. Claro que dóe, cansa, mas a satisfação de cumprir uma promessa é maior que qualquer dor."

Esta não é sua primeira romaria — longe disso. Desde 2016, ele já perdeu as contas de quantas vezes fez trajetos similares, sempre em outubro, mês dedicado à padroeira do Brasil. Mas esta, com a cruz monumental, é sem dúvida a mais desafiadora.

Um Espetáculo de Fé nas Estradas

Quem passa por ele nas estradas não esconde a admiração — e às vezes a incredulidade. "Já me perguntaram se eu era maluco", ri Ademir. "Mas a maioria entende que é questão de fé mesmo. O brasileiro conhece essas coisas."

O destino final — a Basílica de Nossa Senhora Aparecida — representa não o fim, mas o recomeço. "Chegar lá é como nascer de novo", descreve. "A gente esquece todo o cansaço, toda a dor. Só fica a gratidão."

Enquanto muitos buscam respostas em aplicativos e terapias caras, Ademir encontra a sua numa jornada lenta e pesada por estradas poeirentas. Sua romaria lembra que, em tempos de instantaneidade digital, ainda existem conquistas que não podem ser aceleradas — apenas vividas, um passo de cada vez, com 150 quilos de madeira nos ombros.