
A tarde desta terça-feira (26) em Belém carregava um peso diferente, um daqueles silêncios que falam mais que mil palavras. O Teatro Waldemar Henrique, palco de tantas alegrias, se transformou num espaço de despedida. Lá, familiares, amigos e uma legião de admiradores se reuniram para o velório de Mestre Damasceno — um titã da cultura popular do Pará que, aos 87 anos, partiu na madrugada de segunda-feira vítima de uma pneumonia.
E que pneumonia mais cruel, não? Ele, que dedicou a vida a espalhar o calor da tradição, foi derrotado por uma infecção que começou de forma tão simples, tão doméstica. Um acidente caseiro, uma queda dentro de casa no último dia 18. A partir dali, uma sequência implacável: fratura no fêmur, cirurgia, complicações pulmonares. Às 3h da madrugada de segunda, seu coração simplesmente parou. A notícia se espalhou pela cidade como um choque, um baque no coração de todo mundo que ama a identidade cultural dessa região.
O governador do estado, Helder Barbalho, não escondeu a dor. Num post cheio de sentimento, ele definiu Mestre Damasceno como um "guardião das nossas tradições". E é isso mesmo. Como resumir uma vida inteira dedicada à música, ao boi-bumbá, ao Círio de Nazaré? O homem era uma enciclopédia viva, um arquivo ambulante de tudo que faz o Norte ser esse caldeirão cultural incrível.
O que mais me corta o coração é pensar no vazio que fica. Quem vai puxar aquelas ladainhas como ele puxava? Quem vai comandar a brincadeira do boi com tanta autoridade e alegria? São perguntas que não têm resposta fácil. A cultura paraense perdeu uma de suas colunas mais sólidas, um daqueles pilares que a gente nem imagina como pode faltar.
O velório foi, ao mesmo tempo, triste e bonito de se ver. Uma mistura de lágrimas e sorrisos ao lembrar das histórias. Gente de todo canto — artistas, políticos, pessoas comuns que foram tocadas por seu trabalho — passou pelo teatro para dar o último adeus. O corpo saiu do local por volta das 17h, seguindo para cremação numa cerimônia restrita à família. Uma vida tão grande, tantas histórias, e no fim é isso: um último suspiro, uma despedida silenciosa.
Mas olha, uma coisa é certa: enquanto alguém em Belém cantar uma toada de boi, enquanto uma criança brincar no Círio, o Mestre Damasceno vai seguir vivo. Esse é o tipo de legado que nem a morte apaga. O palco do Waldemar Henrique ficou vazio hoje, mas o espetáculo que ele criou durante quase nove décadas vai ecoar para sempre.