
Quem diria, hein? Uma música de 1997, do já cultuado álbum ‘OK Computer’ do Radiohead, simplesmente resolveu dar as caras no topo das playlists digitais em 2024. Não é pouco, são 28 anos depois de ter sido lançada. A faixa ‘Let Down’, sempre amada pelos fãs hardcore mas um tanto negligenciada pelo grande público, virou uma sensação do nada – ou melhor, do algoritmo.
O fenômeno é, vamos combinar, uma daquelas coisas que só a internet é capaz de proporcionar. Tudo começou a ganhar corpo no TikTok, como quase tudo hoje em dia. Um trecho específico da música – aquele crescimento emocionante com os vocais sobrepostos de Thom Yorke – começou a ser usado como trilha sonora para vídeos que capturam momentos de pura… como dizer… catharsis silenciosa. Aquele instante de beleza melancólica no meio do caos do dia a dia.
Não foi por acaso: o poder da nostalgia e do algoritmo
O que aconteceu depois foi uma reação em cadeia. Fãs antigos, tomados por uma nostalgia avassaladora, correram para as plataformas de streaming. Gerações mais novas, que talvez nunca tivessem mergulhado de cabeça no Radiohead, descobriram a pérola. E o algoritmo, bem, o algoritmo fez a sua parte, empurrando ‘Let Down’ para todo mundo como se fosse um lançamento fresquinho.
É irônico, não é? Uma música que literalmente fala sobre se sentir insignificante e ‘deixado pra baixo’ (um trocadilho com o próprio título) encontrou seu momento de glória máxima graças à mesma tecnologia que o ‘OK Computer’ meio que previu e temia. O álbum todo é uma reflexão sobre a desconexão humana na era da máquina, e três décadas depois, uma de suas faixas é ressuscitada por uma máquina. Tem poesia nisso, ou só puro sarcasmo do destino?
O que isso diz sobre a indústria musical hoje?
Esse caso esquisito e maravilhoso de ‘Let Down’ joga uma luz forte sobre como consumimos música agora. Hit não é mais só o que toca no rádio. Hit é o que viraliza, o que vira meme, o que captura um sentimento coletivo inexprimível em 15 segundos. A linha do tempo colapsou. Lançamento novo? Lançamento velho? Isso não importa mais. O que importa é a ressonância no agora.
E talvez a maior lição seja que uma obra de arte verdadeiramente boa é atemporal. Ela fica lá, dormindo no catálogo, esperando o mundo girar e chegar no momento exato em que ela finalmente fará o sentido mais perfeito. Para ‘Let Down’, esse momento é agora. E que bom que é.