Não foi só mais um show. Foi um abraço musical que atravessou gerações. Gilberto Gil, com aquela voz que já virou patrimônio nacional, subiu ao palco carregando mais do que seu violão — levava no peito uma história de amor em forma de canção.
Na plateia, Preta Gil, de olhos marejados, assistia ao pai transformar em melodia a devoção por dona Olívia, sua avó, que completava 78 anos. "Ela é minha raiz", confessou Gil entre uma música e outra, enquanto ajustava as cordas do violão com dedos que já escreveram parte da MPB.
Um repertório que virou carta de amor
Quem esperava apenas os clássicos se surpreendeu. Gil misturou "Expresso 2222" com versões repaginadas de "Toda Menina Baiana" — quase como se estivesse costurando passado e presente com fios de notas musicais. Em certo momento, parou tudo e disse, meio sem jeito: "Essa aqui é pra dona Olívia, que me ensinou que música boa é aquela que vem da alma".
E veio mesmo. A plateia, que ia de jovens de boné a senhoras de cabelos brancos, virou um coro só quando começou "Aquele Abraço". Dá pra jurar que até as paredes do teatro balançaram.
Detalhes que fizeram a diferença
- O violão de Gil, mais afinado que nunca, parecia responder às emoções dele
- Aquela pausa dramática antes do refrão de "Tempo Rei", quando todos prenderam a respiração
- O jeito como Preta, no camarim, cantarolava baixinho as músicas que ouviu desde o berço
"Não tem presente melhor", confessou Preta depois do show, enquanto abraçava o pai com aquele jeito desengonçado de quem está segurando as lágrimas. Gil, por sua vez, só sorria — aquele sorriso meio cúmplice que diz "valeu cada nota".
No final, quando já descia as escadas do teatro, um fã gritou: "Gil, cadê a música nova?" O artista virou, piscou e respondeu: "Tá vindo, mas primeiro tinha que homenagear quem me ensinou a andar". E sumiu no carro, deixando no ar aquela sensação gostosa de quem acabou de presenciar algo realmente especial.
