
O mundo da música pode ser um campo minado para quem quer manter a alma intacta. Luedji Luna, essa voz que vem da Bahia carregada de ancestralidade, sabe disso como poucas. E resolveu botar a boca no trombone.
Num papo recente, ela foi direta ao ponto: quer virar ícone, sim, mas sem precisar se vender no processo. "A gente cansa de ver artistas tendo que abrir mão de quem são para caber num molde", dispara, com aquela convicção que só quem tem raiz consegue ter.
O jogo sujo da indústria
Ela não usa meias-palavras. Fala sobre as pressões que as gravadoras e o mercado impõem - especialmente quando você é uma mulher negra com algo a dizer. "Tem toda uma engrenagem que tenta te encaixotar, suavizar suas arestas, domar sua essência."
Mas Luedji não está disposta a ser domada. Sua música, aquela mistura potente de jazz, samba e afrobeat, é território sagrado. Não negocia.
Raízes que sustentam
Talvez seja Salvador pulsando em suas veias. A cidade, com toda sua complexidade e beleza crua, ensina desde cedo sobre resistência. "Aqui a gente aprende que identidade não é moeda de troca", reflete, com a sabedoria de quem carrega séculos de história nos ombros.
Seu último trabalho, "Um Corpo no Mundo", é quase um manifesto. Cada faixa, um grito de existência. Cada verso, uma afirmação de lugar.
O preço da autenticidade
Não é fácil, claro. Ela admite que já perdeu oportunidades por se recusar a seguir roteiros prontos. "Às vezes te oferecem visibilidade em troca da tua alma. É uma negociação perigosa."
Mas prefere o caminho mais longo, mais difícil. Aquele onde pode olhar no espelho e reconhecer a pessoa de verdade - não uma caricatura criada para agradar.
No fim das contas, Luedji Luna está construindo algo raro: uma carreira que não nega suas origens, que não pede desculpas por ser quem é. E nesse mundo de fachadas, isso já é revolução.