Scholastique Mukasonga: A Voz que Desafia o Silêncio do Genocídio Ruandês
Scholastique Mukasonga: Voz contra o silêncio

Há certas histórias que nos pegam pela gola e nos sacodem — a de Scholastique Mukasonga é uma delas. E olha que não é para menos. A ruandesa, que sobreviveu ao inferno do genocídio de 1994, encontrou nas palavras sua arma contra o esquecimento.

Imagina só: perder 37 familiares de uma vez. Trinta e sete. O número soa quase abstrato, não é? Mas para ela, cada um era um mundo inteiro. E foi justamente essa dor indizível que a levou a escrever. "Escrevo para enterrar meus mortos", ela diz, numa frase que corta como faca.

Da Tragédia à Literatura

O caminho de Mukasonga foi tudo menos linear. Refugiada na França desde os anos 80, ela trabalhou como assistente social — profissão que, convenhamos, já exige uma dose extra de resiliência. Mas algo dentro dela pedia mais. Algo pedia voz.

E que voz! Seu primeiro livro, "A Mulher de Pés Descalços", é um soco no estômago. Narra a vida de sua mãe, Stefania, assassinada no genocídio. É literatura como ato de resistência, memória como dever moral.

O Peso das Palavras

O que me impressiona — e aqui falo como quem já viu muita história passar — é como ela consegue transformar a brutalidade em algo quase... poético. Sem jamais romantizar a violência, entenda bem. É mais como se ela nos mostrasse que mesmo nas cinzas pode nascer beleza.

Seus livros não são fáceis de digerir. Nem deveriam ser. A memória do genocídio, que matou cerca de 800 mil tutsis em apenas 100 dias, precisa doer. Precise incomodar. Do contrário, para que serviria?

Uma Lição Universal

O interessante é que a obra de Mukasonga transcende a tragédia ruandesa. Ela fala sobre qualquer grupo perseguido, qualquer minoria ameaçada. Fala sobre a humanidade — ou a falta dela — que habita em todos nós.

Numa era de notícias descartáveis e atenção dispersa, seu trabalho nos lembra: algumas histórias precisam ser contadas. E recontadas. Até que a mensagem finalmente entre na nossa cabeça dura.

Afinal, como ela mesma sugere, a literatura pode ser o último refúgio quando tudo mais desaba. E que sorte a nossa ter quem nos lembre disso.