
Que notícia fantástica para a literatura de expressão portuguesa! A angolana Ana Paula Tavares — uma voz que há décadas encanta leitores com sua poesia visceral — acaba de ser agraciada com o Prêmio Camões 2025. Sim, estamos falando do mais cobiçado troféu das letras lusófonas, equivalente ao Nobel para nosso universo linguístico.
O anúncio chegou como um sopro de alegria nesta quinta-feira, direto de Lisboa. A decisão do júri foi unânime — coisa rara nesses casos — reconhecendo a "contribuição excepcional" de Tavares para o enriquecimento do patrimônio literário comum. E que contribuição!
Uma vida dedicada às palavras
Nascida em 1952 na província da Huíla, no sul de Angola, Ana Paula construiu uma carreira literária que simplesmente transpira autenticidade. Sua obra bebe da tradição oral africana enquanto conversa intimamente com as grandes questões contemporâneas. É como se cada poema carregasse a sabedoria ancestral e, ao mesmo tempo, a urgência do presente.
E olha que interessante: antes de se dedicar exclusivamente à literatura, ela trilhou o caminho da História. Formou-se em História Moderna e Contemporânea pela Universidade de Lisboa — formação que, sem dúvida, alimenta o caráter denso e reflexivo de seus versos.
O reconhecimento que já vinha em ondas
Embora o Camões seja o ápice, Ana Paula já acumulava prêmios importantes na bagagem. O António Jacinto, em 1985, foi como um primeiro sinal de que algo especial estava acontecendo. Depois vieram outros, cada um confirmando o que os leitores mais atentos já sabiam: estávamos diante de uma voz singular.
Seus livros — "Ritos de Passagem" (1985), "O Lago da Lua" (1999), "Dizes coisas divagantes" (2009) — funcionam quase como cartografias emocionais. Ela mapeia afetos, memórias, ausências. E faz isso com uma linguagem que consegue ser, ao mesmo tempo, delicada e potente.
O que significa esse prêmio?
Para além do valor em dinheiro — 100 mil euros, nada desprezível — o Camões representa algo maior: o reconhecimento institucional de que a literatura angolana é parte fundamental do cânone lusófono. Não é mais aquela história de "literatura periférica". Está no centro, onde sempre deveria ter estado.
E tem mais: Ana Paula é apenas a segunda mulher angolana a receber o prêmio, seguindo os passos de Paulina Chiziane em 2021. Parece que finalmente as coisas estão mudando — ainda que devagar demais para o gosto de muitos.
O júri, composto por especialistas do Brasil, Portugal, Angola e outros países lusófonos, destacou "a profundidade e originalidade" de sua obra. Mas eu diria que vai além: há uma humanidade rara em seus versos, algo que fala diretamente ao coração — independentemente de onde esse coração bata.
E agora, o que esperar?
Com a visibilidade do prêmio, é quase certo que novas gerações de leitores descobrirão sua obra. E que descoberta maravilhosa os espera! Sua poesia tem esse poder de tocar fundo, de ressoar mesmo em quem nunca pisou em solo africano.
Enquanto isso, Ana Paula Tavares — mulher, africana, poeta — entra para a história das letras portuguesas não como coadjuvante, mas como protagonista. E que belo protagonismo, cheio de graça e verdade.
Resta-nos celebrar. E, claro, reler seus poemas com a alegria de quem sabe estar diante do que há de melhor em nossa língua comum.