
Numa quarta-feira que já entrava para a história, o Rio de Janeiro testemunhou um daqueles momentos que fazem os amantes de literatura arrepiarem. Milton Hatoum, aquele sujeito que transforma palavras em pontes entre Manaus e o mundo, acabou de ganhar um assento na casa de Machado de Assis.
Não foi surpresa pra ninguém — ou melhor, só pra quem nunca leu Dois Irmãos e não sabe que o homem escreve como quem respira. A votação na ABL foi mais uma formalidade, porque a cadeira número 16 já tinha o nome dele escrito desde que o último ocupante saiu.
Um autor que fala da alma humana (sem manual de instruções)
O que Hatoum faz com as palavras não é bem escrever — é costurar memórias, exilar sentimentos e, de quebra, colocar o Norte do país no mapa da alta literatura. Seus livros são daqueles que você termina e fica olhando pro teto, pensando na vida.
"Ele não cria personagens, ele apresenta parentes distantes que a gente reconhece no espelho", disparou um acadêmico que preferiu não ter o nome revelado — mas a fala diz tudo.
A cerimônia que quase virou festa
Quando o resultado saiu, até o ar-condicionado daquela sala histórica pareceu sorrir. Hatoum, sempre discreto, quase deixou escapar uma lágrima — coisa rara pra quem costuma guardar as emoções pras páginas dos livros.
Os discursos? Ah, foram daqueles que começam formais e terminam com abraços. Até o chá servido depois pareceu mais saboroso, como se a literatura tivesse temperado a água.
E agora? Bom, o Amazonas ganhou mais que um imortal — ganhou um embaixador das letras que fala de rios, de saudade e daquela mistura complicada que faz o Brasil. E a ABL? Ganhou um membro que vai trazer pro casarão da Avenida Presidente Wilson um pouco do cheiro de chuva da floresta.