Quem diria que um escritor japonês poderia inspirar uma das experiências gastronômicas mais comoventes de São Paulo? Telma Shiraishi, aquela chef que sempre surpreende, mergulhou fundo nas memórias afetivas de Haruki Murakami para criar algo extraordinário.
E não foi qualquer mergulho. A cozinheira — que tem um jeito único de traduzir emoções em sabores — decidiu explorar Hokkaido, aquela ilha gelada no norte do Japão que moldou a infância do autor. O resultado? Arrepios na espinha e lágrimas nos olhos de quem prova.
Mais do que ingredientes: uma viagem no tempo
O cardápio especial, que está fazendo sucesso absoluto no Aizomê, vai muito além da técnica impecável. Cada prato conta uma história. Uma lembrança. Um pedaço da alma japonesa que muitos brasileiros nem imaginam existir.
"Butter Ramen" — o nome até parece simples, mas espere até experimentar. Um caldo que parece um abraço da vovó em dia frio. Macarrão artesanal nadando nessa mistura cremosa que derrete na boca. Uma homenagem à culinária yōshoku, aquela adaptação ocidental que os japoneses abraçaram como se fosse deles desde sempre.
Surpresas que emocionam
E tem mais, claro. O lamen de miso com milho doce — doce, salgado, umami, tudo ao mesmo tempo. Uma explosão de sabores que te transporta direto para as feiras livres de Sapporo. E o guioza? Crocante por fora, suculento por dentro, recheado com aquela carne que parece derreter na língua.
O que mais impressiona — e aqui vou ser sincero — é como Telma conseguiu capturar a essência daquela cozinha caseira que aquece o coração. Não é sofisticação vazia. É comida que alimenta a alma.
Murakami na cozinha
O curioso é que Murakami, aquele gênio da literatura, sempre deixou pistas sobre sua relação com a comida em seus romances. Telma foi como uma detetive gastronômica, desvendando cada referência, cada menção sutil aos sabores da infância.
E sabe o que é mais bonito? Ela não se limitou aos pratos famosos. Foi atrás daquelas comidas simples, do dia a dia, que ninguém nota mas que carregam as memórias mais preciosas. Como aquele arroz com curry que toda família japonesa tem sua versão.
O menu — que fica até 31 de julho, então corre! — é uma aula de como a gastronomia pode ser ponte entre culturas. Como um prato pode contar histórias que livros às vezes não conseguem expressar.
Para quem ama boa comida e boas histórias, é daquelas experiências que ficam na memória — e no paladar — para sempre.
