
Imagine o som ancestral das flautas de taquara ecoando junto às cordas de um violino. Pois é exatamente essa fusão — que parece improvável, mas soa como magia — que a Orquestra Indígena de Mato Grosso do Sul está levando para a Europa. E olha, não é qualquer turnê: é a estreia internacional de um projeto que já nasce histórico.
O grupo, formado majoritariamente por jovens dos povos Guarani e Kaiowá, vai desembarcar em setembro na Alemanha, Itália e Áustria. E não vai sozinho: leva na bagagem não só instrumentos, mas toda uma narrativa de resistência e identidade. Quem ouve, cala. Quem vê, se emociona.
Uma sonoridade que vem da terra
Os instrumentos tradicionais — como o mimby (uma espécie de flauta), o takuapu (bastão rítmico) e o angu’a (chocalho de sementes) — dialogam com violinos, violoncelos e clarinetes. Parece estranho? Pode até ser. Mas o resultado é arrebatador. É como se a floresta e a sala de concerto finalmente se entendessem.
E não se engane: não se trata de uma “curiosidade exótica”. É música de altíssimo nível, com arranjos complexos e uma emotividade que chega a doer. Quem idealizou essa mistura foi o maestro e produtor cultural Wilton Pereira, que há anos trabalha com comunidades indígenas no estado. “É uma ponte entre mundos”, ele define, sem exagero.
Mais que música: é mensagem
Por trás das notas, há um discurso. Forte, urgente. As composições falam de território, memória, espiritualidade. E também de luta. “A gente não quer só entreter”, conta Jeferson Pires, um dos flautistas kaiowá. “Queremos mostrar que existimos, resistimos e temos algo belo a oferecer ao mundo.”
E a Europa parece pronta para ouvir. As casas de espetáculo já estão com ingressos à venda — e a expectativa é de lotação esgotada em pelo menos duas das apresentações. Quem diria, hein? A sonoridade do Cerrado brasileiro ecoando nos teatros centenários de Viena e Berlim.
Resta torcer para que essa viagem seja só a primeira de muitas. Porque música, quando é feita com essa verdade, não tem fronteira que a segure.