
Era pra ser mais um show. Não foi. Nem poderia, com Ney Matogrosso no palco. Na noite desta quinta, o Festival de Inverno da Bahia parou - literalmente - para testemunhar algo raro. Um daqueles momentos que a gente conta pros netos no futuro.
O ar, já carregado daquela energia boa que só a Bahia tem, ficou elétrico quando as primeiras notas ecoaram. E lá estava ele. Imponente. Dono de si. Uma figura quase mitológica diante dos olhos de milhares.
Que voz! Aos 78 anos, Ney desafia qualquer lógica biológica. Soa potente, nítida, cheia daquelas nuances que arrepiam. Cantou clássicos, revisitou sucessos e - como sempre - surpreendeu.
Plateia: De avós a netos, todos rendidos
Olhava-se ao redor e via-se de tudo. Casais de sessenta e poucos anos, braço dado, cantando todas as letras com olhos marejados. Jovens de vinte e poucos, celulares em riste, capturando cada momento para o Instagram. Até crianças, lá no colo dos pais, balançando ao ritmo da música.
Ney tem esse dom incrível de falar com todo mundo. Sua música não tem idade, não tem época, não tem geração. É atemporal, como boa arte deve ser.
"Balada do Louco" então? Nossa. Foi como um tremor de terra coletivo. Todo mundo cantando junto, dos mais tímidos aos mais desinibidos. Aquele momento mágico onde milhares de vozes viram uma só.
O espetáculo visual: Uma aula de estilo
Mas não foi só a voz. Ah, não! Ney é teatro puro. Cada gesto calculado, cada olhar, cada pausa dramática. Suas roupas? Espetaculares, como sempre. Cores vibrantes, tecidos que fluíam com seu movimento, numa coreografia não-dita.
E a sensualidade? Transbordava, mas com classe. Naquela dança quase imperceptível dos quadris, no jeito que segurava o microfone, na forma como envolvia o público só com um sorriso malandro.
Parece exagero? Quem estava lá sabe que não é. Teve gente que jurou ver lágrimas nos olhos do artista durante "Homem com H". Coisa de doer a alma.
O que fica depois do show
Quando as luzes se acenderam, o sentimento era unânime: tinham testemunhado algo especial. Algo que vai além do entretenimento, que beira o espiritual.
O Festival de Inverno da Bahia acertou em cheio na escolha. Ney Matogrosso não é apenas um cantor; é um patrimônio nacional que continua, ano após ano, a reinventar-se e a emocionar. E naquela noite, sob o céu baiano, ele provou mais uma vez por que é simplesmente insubstituível.