
Não foi só a plateia que se emocionou. A ministra da Cultura, Margareth Menezes — sim, aquela voz poderosa que já ecoou nos palcos do mundo — pareceu capturar a essência da Festa da Boa Morte assim que pisou nas ruas de pedra de Cachoeira. E olha que ela já viu de tudo, mas essa... essa é diferente.
Imagine só: uma tradição que atravessa séculos, misturando devoção católica com raízes africanas, tudo isso no coração do Recôncavo Baiano. A irmandade da Boa Morte, formada por mulheres negras, desfilou com vestes brancas imaculadas, carregando a imagem de Nossa Senhora como quem carrega séculos de história nas costas.
"Isso aqui é patrimônio vivo"
Margareth, com aquela mistura de respeito e empolgação que só os baianos entendem, não disfarçou:
"Quando a gente fala em cultura brasileira, tá falando disso aqui — resistência, fé e uma beleza que nenhum museu do mundo consegue guardar."
E ela tem razão. A festa, que acontece desde 1820 (sim, antes da Independência do Brasil!), é daquelas que fazem você questionar por que não existem documentários suficientes sobre o assunto.
O que rolou:
- Procissão luminosa iluminando o casario colonial
- Cantos em yorubá se misturando com ladainhas católicas
- Cheiro de acarajé e dendê pairando no ar — porque na Bahia, até a fumaça tem sabor
E não pense que foi só discurso oficial. Em certo momento, alguém puxou um samba de roda e adivinha? A ministra caiu no meio como se fosse mais uma das senhoras da irmandade. "Aqui ninguém é estrangeiro", riu uma das fiéis, enquanto Margareth tentava acompanhar os passos.
Detalhe que faz diferença: enquanto alguns eventos culturais viram peça de museu, a Boa Morte pulsa. Crianças correndo entre os adultos, jovens gravando no celular (ah, modernidade!), turistas de boca aberta — tudo junto e misturado, como deve ser.
O prefeito de Cachoeira, que acompanhava a comitiva, soltou uma pérola: "Isso não é folclore, é história viva sendo escrita a cada ano." E olha que ele nem é poeta.
Enquanto o sol se punha sobre o Rio Paraguaçu, deixando o céu naquele tom laranja que só existe na Bahia, dava pra entender por que essa festa resiste há tanto tempo. Não é só sobre religião — é sobre pertencimento, identidade e, claro, aquela teimosia baiana de manter viva a chama da cultura popular.