
Parece que foi ontem, mas já faz alguns dias que São Paulo parou para ouvir. Ou melhor, para sentir. O Festival Negritudes, aquele que prometeu ser diferente, cumpriu a promessa com sobras no seu último dia. E que final!
O clima no domingo era daqueles que a gente não esquece fácil. Não era só mais um evento cultural — era algo visceral, quase uma conversa de alma para alma. As discussões sobre pertencimento e autoestima da população negra ganharam contornos que nem sempre vemos por aí.
Mais do que palavras bonitas
O que me pegou mesmo foi a sinceridade das conversas. Nada daquelas frases prontas que a gente já cansou de ouvir. Os participantes falaram de dores reais, conquistas diárias e daquela luta constante por se ver representado — e se amar — num mundo que ainda resiste.
Uma das falas que mais marcou veio de uma educadora que, com uma calma que doía, questionou: "Até quando vamos precisar provar que merecemos ocupar todos os espaços?" A pergunta ficou no ar, pesada, enquanto a plateia assimilava.
Os detalhes que fazem diferença
- Rodas de conversa que viraram verdadeiras terapias coletivas
- Histórias de vida que mostravam a resistência no dia a dia
- O compartilhamento de estratégias práticas para fortalecer a autoestima
- Aquela sensação — difícil de explicar — de estar entre iguais
E sabe o que é mais interessante? O festival mostrou que autoestima não é só sobre se achar bonito no espelho. É sobre se reconhecer como parte de uma história, uma cultura, uma trajetória. É complexo, mas ao mesmo tempo tão simples quando a gente para pra pensar.
Os organizadores acertaram em cheio ao trazer essa temática para o encerramento. Porque no final das contas, de que adianta celebrar a cultura se a gente não consegue celebrar a nós mesmos?
O que fica depois da poeira baixar
O evento terminou, as luzes se apagaram, mas o eco permanece. Várias pessoas que conversei depois ainda estavam processando tudo. Uma jovem me disse, com os olhos brilhando: "É a primeira vez que saio de um evento me sentindo mais leve sobre ser quem sou."
E não é exagero dizer que São Paulo precisava disso. Numa cidade que corre tanto, parar para refletir sobre identidade parece luxo — mas deveria ser necessidade.
O Festival Negritudes mostrou que ainda há muito chão pela frente, mas também que estamos caminhando. E o mais importante: caminhando juntos. Que venham mais edições — a cidade, e principalmente as pessoas, agradecem.