Documentário '3 Obás de Xangô' Revela Amizade Íntima Entre Jorge Amado, Caymmi e Carybé na Bahia
Documentário revela amizade de Jorge Amado, Caymmi e Carybé

Imagine Salvador nos anos dourados - o cheiro do mar misturado com o dendê, o som dos atabaques ecoando pelas ladeiras, e três titãs da cultura brasileira compartilhando histórias e risadas em algum boteco da Pelourinho. Pois é exatamente essa magia que o documentário '3 Obás de Xangô' consegue capturar com uma intimidade que chega a emocionar.

Dirigido pelo talentoso Cacau Nascimento - que, diga-se de passagem, parece ter herdado o dom narrativo do pai, o saudoso Antônio Carlos - o filme mergulha fundo na relação quase fraternal entre o escritor Jorge Amado, o compositor Dorival Caymmi e o artista plástico argentino-baiano Carybé. Uma amizade que, vamos combinar, era praticamente um supergrupo cultural décadas antes de isso se tornar moda.

Mais Que Amigos - Irmãos de Arte e Fé

O título não é mero acaso. A referência aos 'obás' vai muito além do simbolismo - esses três eram verdadeiros conselheiros reais na corte da cultura baiana. E o que pouca gente sabe: todos foram iniciados no candomblé justamente como obás de Xangô, o orixá da justiça, trovão e fogo. Não é à toa que suas obras carregam essa energia toda!

O documentário, com previsão de estreia para novembro - marcando os 30 anos da partida de Caymmi, não me chorem! - promete revelar material inédito. Estamos falando de fotografias que nunca viram a luz do dia, documentos pessoais e até depoimentos de quem testemunhou essa convivência tão singular.

Um Quebra-Cabeça Cultural

O que mais me impressiona é como o filme mostra a influência mútua entre eles. Não era simplesmente uma amizade de bar ou de roda de samba. Havia uma troca criativa constante - Caymmi musicando textos de Amado, Carybé ilustrando as capas dos livros, Jorge dando voz às paisagens que os outros dois retratavam. Uma simbiose artística raríssima!

E tem mais: a produção desvenda como essa amizade influenciou diretamente a forma como o Brasil e o mundo passaram a enxergar a Bahia. Foi através desses três que a cultura afro-baiana ganhou o status de patrimônio nacional, deixando de ser folclore marginalizado para se tornar elemento central da identidade brasileira.

O projeto, que conta com o incentivo do Fundo de Cultura da Bahia através do edital Arte Todo Dia - Ano III, parece ter captado a essência desses encontros históricos. Dizem por aí que as filmagens em locais como o Teatro Vila Velha e o Museu Carlos Costa Pinto recriaram a atmosfera da época com uma fidelidade impressionante.

Particularmente, mal posso esperar para ver as cenas que mostram como eles se reuniam para discutir arte, política e religião - sempre regadas a boa música e, imagino, uma generosa dose de caipirinha. Afinal, eram baianos autênticos!

No fim das contas, '3 Obás de Xangô' não é apenas sobre três artistas geniais. É sobre a amizade como força criativa, sobre a Bahia como musa inspiradora e sobre como algumas relações transcendem o pessoal para se tornar legado cultural. Como diria o velho Jorge: 'Isso não é história, é vida pura!'