Bailarina de Itapetininga brilha no Egito: 'A dança é minha razão de viver'
Bailarina de Itapetininga brilha em festival no Egito

Quem diria que os pés descalços que pisavam o chão de terra batida na infância hoje dançariam nos palcos mais cobiçados do mundo? A história de Maria Fernanda — ou simplesmente MaFê, como prefere ser chamada — é daquelas que faz a gente acreditar que os sonhos, quando regados com suor persistente, florescem mesmo nos solos mais áridos.

Nascida e criada em Itapetininga, interiorzão paulista onde o asfalto às vezes parece querer engolir os sonhos, essa menina de 22 anos acabou de colocar o nome da cidade no mapa cultural mundial. Se apresentou no prestigiado Nile International Dance Festival, no Cairo, e — pasmem! — foi a única brasileira selecionada entre 400 candidatos.

Do quintal de casa para o mundo

"Comecei dançando escondida no quintal de casa, imitando as bailarinas que via na TV", conta MaFê, entre risos que parecem guardar toda a timidez da menina que foi. Os pais, trabalhadores rurais, não tinham condições de pagar aulas. "Mas a vida tem dessas — quando fecha uma porta, abre uma janela no lugar mais inesperado."

No caso dela, a janela foi a professora de educação física da escola pública que notou seu talento bruto. "Aquela menina dança até quando está parada", brincava a professora. E foi assim, entre improvisos e dores nos pés de tanto ensaiar em chão de cimento, que nosso diamante bruto começou a ser lapidado.

O chamado do Egito

Quando o e-mail de seleção chegou, MaFê quase não acreditou. "Pensei que fosse golpe! Quem, eu? Uma garota do interior no Egito?" Mas era verdade. Com uma coreografia que misturava movimentos clássicos com elementos da cultura caipira — sim, vocês leram direito —, ela conquistou os jurados.

No palco do Cairo, vestida com uma roupa que mesclava tecidos brasileiros com designs árabes (obra de uma costureira local, diga-se), MaFê executou piruetas que deixaram o público de boca aberta. "Quando terminei, ouvi aplausos em três idiomas diferentes. Foi como se o mundo todo estivesse me abraçando."

"Não é só movimento, é vida"

Pra quem pensa que dança é só entretenimento, MaFê dá uma aula de filosofia com o corpo: "Cada passo meu carrega a história da minha família, as dificuldades que superei, as noites sem dormir ensaiando... Quando danço, não estou apenas me movendo — estou contando quem sou."

E o futuro? "Quero criar uma escola aqui em Itapetininga. Porque talento tem em todo canto, só falta oportunidade." Enquanto isso, ela já foi convidada para festivais na França e no Japão. Mas faz questão de dizer: "Minha raiz tá aqui, nessa terra que me ensinou a ser forte."