
Não foi só o rio Tapajós que esquentou neste fim de semana. Santarém fervilhou com a ginga de mais de 200 capoeiristas na 20ª edição do Arte Capoeira — e olha que a coisa começou morna, com aquela timidez típica de quem não quer pisar no pé do outro (literalmente).
De repente, o berimbau deu o sinal e a cidade virou um só corpo. Mestres com mais de 60 anos ensinando passos pra molecada de 5, turistas perdidos no ritmo da puxada de rede, até um gringo que jurou de pé junto ter visto "breakdance brasileiro" — coitado, nunca mais vai ver dança urbana com os mesmos olhos.
O que rolou no evento?
- Rodas abertas que duravam até o suor escorrer no chão de terra batida
- Oficinas onde crianças aprendiam que "meia-lua" não é só fase da lua
- Campeonato infantil com disputas mais acirradas que briga de galo (sem galo, claro)
- Feirinha de artesanato onde cordéis coloridos disputavam atenção com berimbaus artesanais
E não pense que foi só festa. O velho mestre Biu — desses que tem a história da capoeira cravada nas cicatrizes das canelas — deu um show à parte. Enquanto ensinava uma esquiva pra garotada, soltou: "Isso aqui é matemática corporal, moleque. 90 graus pra direita, 180 pra esquerda... errar o ângulo é pedir pra comer o chão".
Por que esse evento importa?
Dois motivos que até meu avô concordaria:
- Mantém viva uma tradição que quase virou crime no passado (sim, capoeira já foi considerada "coisa de malandro")
- Transforma a praça da cidade num laboratório de resistência cultural — onde meninos que mal sabem amarrar a corda da calça já aprendem a "desamarrar" preconceitos
Ah! E pra quem acha que capoeira é só balançar o corpo: teve até aula de filosofia por trás dos movimentos. Quem diria que uma "queda de rins" pode ensinar sobre resiliência, hein?
No final, quando o último toque do atabaque ecoou sobre o rio, até as garças pareciam dançar. Santarém provou mais uma vez que é terra onde tradição e futuro rodam juntos — sem tropeçar.