Paloma Amado revela os altos e baixos de crescer sob a sombra de Jorge Amado e Zélia Gattai
Paloma Amado fala sobre ser filha de Jorge Amado e Zélia Gattai

Quem nasce em berço de ouro — ou melhor, de livros — carrega um peso nas costas que poucos entendem. Paloma Amado, filha do gigante Jorge Amado e da talentosa Zélia Gattai, sabe disso como ninguém. E olha que não é fácil, viu? Crescer entre personagens que saltavam das páginas direto para a mesa do jantar.

Numa conversa franca, ela descreve a infância em Salvador como um "carnaval de contradições". De um lado, a magia de ver o pai transformar o cotidiano baiano em arte. De outro, a pressão silenciosa de ser "a filha de". "Meu sobrenome era ao mesmo tempo um presente e uma cela", confessa, com aquele jeito despojado que herdou da mãe.

O lado B da fama literária

Se você acha que ter pais famosos é só glamour, Paloma ri — daquele riso que vem com décadas de histórias mal contadas. As festas na casa da Rua Alagoinhas? Era um vaivém de artistas, políticos e malandros que depois virariam personagens. Mas a menina de 10 anos queria mesmo era brincar sem ser o centro das atenções.

E os livros? Ah, os livros... "Demorei anos para ler meus pais sem o filtro da filha", admite. Quando finalmente mergulhou nas obras, descobriu Jorge e Zélia que o mundo não conhecia: mais humanos, cheios de falhas e ternuras que só apareciam nos intervalos entre um capítulo e outro.

O legado que não cabe nas estantes

Hoje, cuidar do acervo dos pais é como "organizar um museu vivo". Cada manuscrito rabiscado, cada foto desbotada traz uma história — algumas engraçadas, outras doloridas. A que mais marca? O dia em que Jorge chegou em casa com o rascunho de "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e Zélia deu aquela risada que ecoou pela casa toda.

Mas não pense que Paloma vive só de passado. Ela construiu sua própria identidade longe dos holofotes, preferindo a discrição dos bastidores. "Herdei o amor pelas palavras, mas escrevo minha história com caneta diferente", filosofa, entre um gole de café e outro.

E o que Jorge diria se a visse hoje? "Ele adoraria meu jeito desbundado de lidar com seu legado. Afinal, na nossa família, até as lembranças têm sotaque baiano."