
Era uma daquelas vozes que a gente reconhecia mesmo de costas. Paulo Soares — ou simplesmente "Amigão", como carinhosamente era chamado — partiu nesta segunda-feira, e o silêncio que ficou parece mais alto que qualquer notícia. Tinha 63 anos, mas uma energia que faria qualquer vinte e poucos corar de vergonha.
A notícia chegou como um soco no estômago para colegas de profissão e telespectadores. O cara que durante décadas narrou histórias alheias agora vira ele próprio a manchete — daquelas que ninguém gostaria de escrever.
Uma Carreira que Era Pura Poesia
Paulo não era apenas mais um repórter. Meu Deus, longe disso. Ele tinha aquela rara combinação de profissionalismo ferrenho com humanidade transbordante. Começou na Rádio Globo nos anos 80 — época em que rádio ainda era rei — e mostrou desde cedo que tinha jeito para a coisa.
Mas foi na TV que sua voz realmente encontrou casa. No Jornal Nacional, ele se tornou uma daquelas presenças constantes que a gente quase dá como certa. Como o café da manhã ou o pôr do sol. Estava sempre lá, contando com calma e precisão os acontecimentos que moldavam nosso país.
O Repórter que Virou Amigo
O apelido "Amigão" não surgiu do nada, sabia? Dizem que era pela maneira como tratava todo mundo — do ascensorista ao diretor de redação. Tinha um sorriso fácil, um ouvido atento, e aquela impressionante capacidade de lembrar o nome de absolutamente todos.
Numa época em que o jornalismo muitas vezes parece distante e impessoal, Paulo Soares era o antídoto perfeito. Ele lembrava a todos que por trás de cada notícia há pessoas — e que contar suas histórias é privilégio, não apenas obrigação.
E que histórias ele contou... Desde tragédias até celebrações, sempre com o mesmo respeito solene pelos fatos e pelas pessoas envolvidas.
O Vazio que Fica
Agora, a bancada do JN parece um pouco mais vazia. As redações do Rio — cidade que ele adotou e que o adotou de volta — estão em luto. Colegas descrevem não apenas a perda de um grande profissional, mas de um amigo genuíno.
"Ele era daqueles raros seres humanos que conseguia ser excelente no que fazia sem precisar pisar em ninguém", contou um colega de décadas, a voz embargada. "Numa profissão competitiva como a nossa, isso diz tudo."
Paulo deixa esposa, filhos, netos e uma legião de admiradores que cresceu acompanhando seu trabalho. E deixa também um exemplo — daqueles que não se ensina em faculdade nenhuma, mas que se aprende observando gente boa fazendo bem feito o que ama.
O Amigão se foi. Mas, caramba, como a saudade vai doer.