
Quase uma década se passou desde que o coração de Jorge Mautner deu um susto no Brasil inteiro. O poeta, compositor e filósofo — sim, esse cara que mistura tudo isso como quem mistura café com pão de queijo — reapareceu publicamente, e a cena foi digna de um filme de Fellini.
Em 2014, o infarto que levou Mautner para longe dos holofotes foi um baque. Mas eis que, como um personagem de seu próprio livro, ele volta. Não com estrondo, mas com aquela presença que só os grandes têm: discreta, porém inconfundível.
Onde andava o mestre?
Ah, essa é a pergunta que todo mundo fez nos últimos anos. Depois do susto cardíaco, Mautner sumiu. Não totalmente — porque artista do calibre dele deixa rastros —, mas o suficiente para virar quase lenda urbana. Dizem que ele continuava compondo, filosofando e, claro, sendo Mautner.
Mas agora, quase 10 anos depois, lá estava ele. Cabelos brancos como sempre (ou mais brancos?), sorriso meio torto, olhos que ainda brilham com a mesma intensidade de quem vê poesia em tudo. A aparição foi rápida, mas suficiente para acalmar os fãs: o velho guerreiro da MPB está vivo, lúcido e, parece, com a mesma cabeça cheia de ideias malucas de sempre.
O que mudou?
Bom, o corpo obviamente sentiu o peso dos anos — e do infarto. Mas a mente? Parece intacta. Quem conversou com ele garante: a conversa ainda salta de Heidegger para o samba de roda num piscar de olhos, como antigamente. A voz pode estar mais fraca, mas as palavras continuam pesando toneladas.
E a música? Ah, a música... Mautner nunca parou, mesmo longe dos palcos. Nas entrelinhas, dá para perceber que ele ainda compõe — talvez mais para si mesmo agora, como um exercício diário de resistência. Resistência física, claro, mas principalmente daquelas ideias que sempre defenderam: a miscigenação, o caos criativo, a beleza do impuro.
Não foi um retorno triunfal. Não houve holofotes nem plateias gritando. Apenas um homem de 81 anos — sim, já são 81! — mostrando que, depois de um infarto e quase uma década de relativo silêncio, ainda tem muito a dizer. Ou melhor, a cantar, filosofar e, principalmente, existir à sua maneira única.