
O coração de Fernanda Torres está em pedaços, mas transbordando gratidão. Nesta semana, a atriz de trajetória brilhante — e dona de um humor tão afiado quanto seu talento — precisou encarar uma das despedidas mais difíceis: a morte da sogra, Irina Popow. E, cá entre nós, não foi qualquer mulher que partiu.
"Ela era daquelas pessoas que iluminam o cômodo só de entrar", confessa Fernanda, em tom que mistura saudade e admiração. Aos 87 anos, Irina deixou um rastro de histórias — algumas dignas de roteiro de cinema. Russa de nascimento, desembarcou no Brasil nos anos 1950 trazendo na bagagem não só sotaque, mas uma coragem que faria qualquer um tirar o chapéu.
Uma vida que parecia filme
Imagina só: fugir da Segunda Guerra ainda criança, reconstruir a vida em terras tropicais, criar quatro filhos (entre eles o ator Paulo José, marido de Fernanda) e ainda manter aquele jeito altivo que desafiava convenções. "Ela tinha opiniões fortes sobre TUDO", ri a nora, lembrando das discussões acaloradas sobre política — que invariavelmente terminavam com xícaras de chá e reconciliações.
Nos últimos anos, a saúde frágil prendeu Irina ao leito. Mas nem isso apagou seu espírito. "Até debilitada, ditava regras", conta Fernanda, entre lágrimas e sorrisos. "Reclamava da comida do hospital, exigia que lessem notícias em voz alta... Uma guerreira até o fim."
O adeus nas redes sociais
Foi no Instagram — esse diário moderno das alegrias e dores — que a atriz derramou o coração. A publicação, repleta de fotos raras, mostra Irina em várias fases: jovem e deslumbrante, depois madura e sábia, sempre com aquele olhar que parecia ver além. Os fãs, é claro, inundaram os comentários com apoio. Alguns até compartilharam memórias pessoais da matriarca, que frequentava eventos culturais no Rio até pouco tempo atrás.
Curiosamente, a dor trouxe à tona uma reflexão belíssima da atriz: "Perder alguém assim é como ver uma biblioteca inteira pegar fogo". Cada história, cada ensinamento, cada "eu te amo" sussurrado em russo — tudo vira cinza. Mas, como ela mesma diz, "algumas pessoas deixam marcas tão profundas que nem a morte apaga".
O velório aconteceu discretamente, no Rio de Janeiro, cercado apenas por familiares e amigos próximos. Nada de holofotes ou espetáculo — do jeito que Irina gostaria. Enquanto isso, Fernanda tenta seguir em frente, sustentada pelas lembranças de uma mulher que, mesmo sem ser famosa, merecia um filme sobre sua vida extraordinária.