Aos noventa anos — uma idade que ela própria talvez nunca imaginasse alcançar com tanta intensidade —, Brigitte Bardot resolveu presentear o mundo com algo mais do que simples memórias. Não se trata de uma autobiografia convencional, aquelas que seguem uma linha do tempo previsível. Muito pelo contrário.
O que ela criou é uma espécie de mapa da alma, organizado em ordem alfabética. Sim, um abecedário. Cada letra traz uma palavra que marcou sua existência, acompanhada de uma definição escrita com sua própria caligrafia, aquela letra cursiva francesa que parece dançar no papel.
Um Tesouro de Imagens Inéditas
E não para por aí. O livro, simplesmente intitulado ABC, é recheado com fotografias que nunca haviam sido publicadas antes. São registros íntimos, instantâneos de momentos roubados à fama, que mostram a mulher por trás do mito. Algumas imagens são tão raras que até os colecionadores mais ferrenhos vão se surpreender.
Quem espera encontrar apenas doces lembranças de Hollywood, no entanto, pode se preparar para algumas surpresas. Bardot nunca foi do tipo que guarda opiniões para si mesma, e isso fica claro em suas escolhas lexicais.
De A a Z: O Mundo Segundo BB
O volume — que chega às livrarias francesas nesta quarta-feira, custando 25 euros — é uma viagem através dos valores que moldaram uma das mulheres mais fotografadas do século XX. E olha, ela não economiza nas palavras quando o assunto é paixão.
Animais, por exemplo, recebe um tratamento especial. Não é de se estranhar, considerando sua dedicação de décadas à causa animal. Mas a forma como ela escreve sobre isso — com uma urgência quase visceral — revela o quanto essa luta define quem ela é hoje.
Já Amor... bem, sobre amor ela tem muito a dizer. E com uma bagagem sentimental que inclui casamentos com diretores icônicos e atores famosos, suas reflexões carregam o peso da experiência real, não apenas frases de efeito.
E tem mais: Polêmica também encontra seu lugar no alfabeto particular de Bardot. Ela, que nunca fugiu de controvérsias, aborda o tema com a franqueza brutal que seus admiradores esperam e seus críticos temem.
Mais que um Livro, um Testamento Pessoal
O que torna essa publicação realmente extraordinária é seu caráter artesanal. Em uma era de conteúdo digital descartável, segurar um volume com a caligrafia original de uma lenda vivente parece quase um ato de resistência. Cada página respira autenticidade, cada letra manuscrita conta uma história dentro da história.
Não é exagero dizer que este ABC funciona como uma espécie de testamento filosófico. Aos noventa anos, Brigitte Bardot não está apenas revisitando seu passado — ela está definindo seu legado, letra por letra, com a mesma intensidade que sempre caracterizou sua passagem pelo mundo.
E que passagem. De símbolo sexual a ativista ferrenha, de musa do cinema à reclusa que escolheu Saint-Tropez como refúgio — cada fase está representada nessas páginas, não em ordem cronológica, mas em ordem afetiva. O resultado é fascinante.
