Berta Loran, ícone do cinema e pioneira da TV brasileira, morre aos 99 anos no Rio
Berta Loran, ícone do cinema brasileiro, morre aos 99 anos

O Rio de Janeiro amanheceu mais silencioso nesta segunda-feira. Aos 99 anos, partiu Berta Loran — e com ela, um pedaço vivo da nossa história cultural. A notícia chegou como um sussurro, mas ecoou forte nos corações de quem acompanhou sua trajetória singular.

Nascida na Hungria em 1925, ela chegou ao Brasil ainda criança — e que sorte a nossa! A pequena Berta Lorincz acabou se tornando Berta Loran, uma das figuras mais queridas e respeitadas do nosso meio artístico. Dá até pra dizer que ela viu o Brasil crescer, e cresceu com ele.

Uma carreira que era um verdadeiro baú de tesouros

Meu Deus, por onde começar? Cinema, teatro, televisão — ela fez de tudo, e fez bem feito. Quem não se lembra da Dona Catifunda no Sítio do Picapau Amarelo? Aquela personagem marcou época, virou parte do imaginário de milhões de brasileiros. Mas sua carreira era muito mais que isso.

Nos anos 50, ela já brilhava na TV Tupi — uma pioneira de verdade, dessas que enfrentaram câmeras pesadas e estúdios improvisados. Teve programa de auditório, comédia, drama... Era uma versatilidade impressionante. E no cinema? Participou de mais de 20 filmes, trabalhando com diretores do calibre de Carlos Manga e Anselmo Duarte.

O curioso é que ela quase seguiu outro caminho. Antes da fama, estudou Farmácia — imagina só! O destino, porém, tinha planos diferentes. E que bom que teve.

Mais que uma artista, uma testemunha da história

Pensar na vida de Berta Loran é como folhear um livro de história do Brasil. Ela viveu praticamente um século — viu guerras, revoluções culturais, a evolução da tecnologia. Das rádios aos streamings, ela acompanhou tudo.

Seu último trabalho foi em 2015, já nonagenária, no filme Última Parada 174. Uma energia que parecia inesgotável. Até pouco tempo atrás, ainda dava entrevistas — sempre lúcida, com aquela memória afiada que deixava qualquer jornalista impressionado.

Aliás, quem conversava com ela saía diferente. Havia uma sabedoria rara em suas palavras, uma leveza que só os anos podem dar.

O legado que fica

Berta Loran não era só uma atriz — era um símbolo de resistência, talento e elegância. Num meio muitas vezes efêmero, ela construiu uma carreira duradoura, baseada no profissionalismo e no amor à arte.

Deixa uma lacuna impossível de preencher. São raros os artistas que conseguem transitar entre gerações como ela fez — admirada pelos que cresceram vendo suas novelas e descoberta pelos mais jovens através dos reruns.

O velório acontece no Memorial do Carmo, no Rio. O enterro será amanhã, no Cemitério Israelita de Inhaúma. Uma despedida tranquila para uma mulher que sempre preferiu a discrição aos holofotes.

O Brasil perdeu uma de suas grandes damas das artes. Mas que história ela deixou! Que exemplo de vida! Berta Loran viveu quase 100 anos — e cada um deles valeu a pena.