Paris 2024: O Que Ninguém Te Contou Sobre os Jogos Além dos Holofotes
Paris 2024: O Bom, o Mau e o Feio dos Jogos

Paris se vestiu de gala, não há dúvida. Quem chegava pela primeira vez ficava embasbacado com os arranjos florais na Champs-Élysées — tulipas vermelhas, brancas e azuis formando ondulações que pareciam dançar ao vento. Os postes ganharam aquelas argolas olímpicas icônicas, e um clima de festa pairou no ar, denso como o cheiro de café e croissant das padarias ao amanhecer.

Mas cá entre nós, morar numa cidade olímpica é bem diferente de ser turista. A magia existe, sim, mas convive com uma realidade bem menos glamourosa.

O Bom: Quando a Cidade Realmente Brilha

Os franceses, ah, os franceses... mostraram que sabem fazer festa quando querem. As cerimônias foram simplesmente deslumbrantes — quem viu a abertura no Sena não esquece tão cedo. E os voluntários? Uma gentileza que surpreendeu até os mais céticos. Sempre com um «bonjour» animado, mesmo debaixo de chuva.

Os espaços esportivos, alguns temporários, outros reformados, funcionaram como relógio suíço. A organização nos locais de competição foi impecável, preciso reconhecer. E a integração entre metrô, ônibus e as novas ciclovias — bem, quando não estava lotado — mostrou um vislumbre do que o transporte urbano poderia ser.

O Mau: O Caquei Que Não Saiu no Jornal

Agora vamos ao que não contaram na TV. O centro, bonito e arrumadinho, escondia uma operação de «limpeza» social digna de filme distópico. Sem-teto e vendedores ambulantes simplesmente sumiram dos cartões-postais. Para onde foram? Boa pergunta — ninguém parecia interessado em responder.

E o comércio local? Os pequenos negócios sofreram, e muito. Com ruas interditadas e clientes assustados com a multidão, muitos fecharam as portas durante as semanas mais críticas. O dono do café na esquina me confessou, com os olhos marejados: «É bonito para o mundo, mas para nós é prejuízo certo.»

Os preços, nem se fala. Um café que custava 2,50 euros saltou para 5. Hotel? Esqueça. Até os apartamentos no Airbnb ficaram proibitivos. Paris parecia ter virado um parque temático para ricos.

O Feio: Quando a Realidade Bate à Porta

Ah, e a sujeira... Nas áreas menos turísticas, o lixo se acumulava de forma escandalosa. Os coletores de resíduos, sobrecarregados, não davam conta. Em alguns bairros, o cheiro tornava-se quase insuportável depois de apenas um dia de sol.

Mas o pior mesmo era a sensação de vigilância constante. Câmeras por todo lado, policiais em cada esquina — sim, dava segurança, mas também uma agonia de se sentir num panóptico gigante. A cidade luz tinha seus cantos escuros, literalmente.

E não me façam falar do transporte na hora do rush. Metrôs tão lotados que pareciam latas de sardinha — e o ar, um sufoco. Turistas perdidos, parisienses estressados... uma combinação explosiva.

Fica a Lição

No final, Paris sobreviveu — como sempre sobrevive. As Olimpíadas trouxeram melhorias que ficarão: estações de metrô reformadas, praças revitalizadas, uma nova consciência urbana.

Mas o evento também escancarou contradições que todas as cidades-sede enfrentam. O brilho olímpico ofusca, mas não apaga, os problemas crônicos. A pergunta que fica é: vale transformar uma cidade num cenário temporário, mesmo que isso signifique esconder seus residentes mais vulneráveis?

Paris 2024 foi, como a própria vida, uma mistura complexa de maravilhoso e problemático. E talvez seja essa ambiguidade que a torna tão humana — e tão memorável.