
Imagine acordar antes do sol nascer, calçar um par de tênis já desgastado por outras caminhadas e se preparar para percorrer, a pé, uma distância equivalente a quatro maratonas seguidas. Pois essa realidade começou para um grupo de aproximadamente 80 fiéis na madrugada desta segunda-feira, em Magalhães Barata, nordeste do Pará.
O clima era de mistura — uma pitada de ansiedade, outra de cansaço antecipado, mas, principalmente, uma fé inabalável que parecia iluminar a escuridão. Eram 4h30 da manhã, horário em que a maioria de nós ainda está lutando contra o despertador, quando a romaria teve seu início solene com uma missa na matriz de São Raimundo Nonato.
Não é apenas uma caminhada
Reduza a 162 quilômetros a uma mera distância no mapa e você perderá completamente o sentido do que está acontecendo aqui. Esta é uma via-sacra sobre o asfalto quente, uma prova física de devoção espiritual que poucos teriam coragem — ou fé suficiente — para encarar.
"É uma emoção muito grande estar aqui novamente", confessou um dos organizadores, a voz embargada pela comoção. "Ver tanta gente disposta a fazer esse sacrifício pela Senhora de Nazaré... é algo que comove até os mais céticos."
E que sacrifício. A previsão é de que a caminhada leve quatro longos dias, com os romeiros pernoitando em escolas e espaços comunitários ao longo da rodovia PA-126. Uma logística quase militar para uma jornada profundamente espiritual.
O que move essas pessoas?
Pergunte a qualquer um deles e você ouvirá histórias que vão desde graças alcançadas até promessas feitas em momentos de desespero. Há quem caminhe por saúde recuperada, por familiares curados, por empregos conseguidos — ou simplesmente por agradecer a vida como ela é.
E pensar que esta tradição já completou 17 anos! Quase duas décadas de passos firmes sobre o asfalto, de pés doloridos e corações aliviados. Uma geração inteira já cresceu vendo seus pais e avós empreenderem essa jornada anual.
O ponto de encontro final? A Basílica Santuário de Nazaré, em Belém, onde no próximo domingo eles se reunirão com outros milhares de fiéis para as celebrações do Círio. Chegarão cansados, sim. Mas chegarão transformados.
Enquanto isso, seguem passo a passo, um apoio após o outro, numa demonstração silenciosa — mas eloquente — de que algumas jornas não se medem em quilômetros, mas em fé.