
Porto Alegre nunca foi tão mágica quanto neste sábado. Das primeiras horas da manhã, o centro da cidade já fervilhava com cores, cantos e tambores — um verdadeiro carnaval espiritual. A razão? A Marcha Internacional da Quimbanda, que reuniu adeptos de todo o mundo em um evento que misturou tradição, resistência e, claro, muita energia.
Não era só uma caminhada qualquer. Era um ato político-religioso, um grito de existência de uma fé que, mesmo marginalizada, pulsa forte no coração do RS. "A Quimbanda vive", ecoava entre os participantes, muitos com trajes que pareciam saídos de um sonho — ou de um conto de Jorge Amado com pitadas de realismo mágico.
Rituais que desafiam o convencional
Enquanto turistas paravam boquiabertos, os praticantes mostravam por que essa tradição afro-brasileira é tão única. Velas coloridas, oferendas meticulosas, danças que contam histórias ancestrais... Tudo ali, no asfalto de Porto Alegre, como se a cidade virasse um grande terreiro a céu aberto.
E olha que a marcha foi só o começo. No Parque da Redenção — porque sim, eles ocuparam o parque inteiro — rolou um encontro internacional com debates que iam desde:
- Os desafios da intolerância religiosa no século XXI
- Técnicas ancestrais de cura que a ciência tá começando a estudar
- Até como a Quimbanda dialoga com movimentos sociais (spoiler: muito mais do que você imagina)
"Não é macumba, é cultura"
Um dos momentos mais marcantes? Quando Mãe Renata de Oxóssi — uma das líderes do evento — deu um recado que ecoou nas redes sociais: "Isso aqui não é folclore, não é 'coisa do diabo'. É herança viva de um povo que resiste há séculos." Dava pra ver a emoção nos olhos dos mais jovens, que pela primeira vez viam sua fé representada com orgulho em escala grandiosa.
E tem mais: o evento contou com uma feira de artesanato sagrado — de incensos feitos com ervas da Amazônia a bonecas de pano com simbolismos que remetem a séculos de história. Quem passou por lá saiu com mais do que objetos: levou pedaços de uma cultura que, definitivamente, não cabe em estereótipos.
Porto Alegre, que já é conhecida por sua diversidade, mostrou mais uma vez por que é terra de todos os credos. E a Quimbanda? Provou que está longe de ser um fenômeno do passado — é movimento, é presente, é futuro.