
O mundo anda mesmo de cabeça para baixo. Não é todo dia que um padre precisa explicar aos fiéis que personagens de novela não precisam — nem podem — receber orações na igreja. Mas foi exatamente isso que aconteceu em Santa Catarina, e a história é tão surreal que parece até roteiro de ficção.
Imagine a cena: fiéis chegando até o padre, com aquela cara de preocupação genuína, pedindo orações por... Odete Roitman. Sim, aquela mesma, a personagem icônica da novela Renascer, vivida pela atriz Antônia Fontenelle. Gente que acompanha a trama do dia a dia, se envolvendo tanto com a história que começou a confundir completamente a linha que separa a realidade da fantasia.
Quando a ficção invade o sagrado
O padre Fábio Gabriel de Souza, que atua na Paróquia São João Batista em Tijucas, no litoral catarinense, contou que recebeu vários pedidos do tipo. "As pessoas chegavam pedindo orações pela Odete, preocupadas com a saúde dela na novela", revelou. E não era brincadeira não — a preocupação nos rostos era legítima, do tipo que faz você perceber o quanto as histórias podem mexer com as emoções de verdade.
O religioso, é claro, teve que dar uma segurada no pessoal. Com paciência de santo — literalmente — explicou que as orações são reservadas para pessoas reais, que enfrentam problemas reais. "Tive que esclarecer que a Odete é um personagem, que a atriz está bem de saúde", contou, ainda meio incrédulo com a situação toda.
O fenômeno por trás do caso
E não pense que isso é caso isolado. O fenômeno tem nome e sobrenome na psicologia: chama-se parassocialidade. Basicamente, é quando a gente cria laços emocionais tão fortes com personagens fictícios que começamos a tratá-los como se fossem reais. É aquela sensação de conhecer a pessoa, de torcer por ela, de sofrer junto.
No caso de Odete Roitman, a coisa ficou ainda mais intensa. A personagem tem uma história pesada — câncer, tratamentos difíceis, dramas familiares — que mexe com qualquer um. Só que tem um detalhe: ela não existe fora das telas. A atriz Antônia Fontenelle está vivinha da silva, obrigada.
- As pessoas acompanham as tramas diariamente
- Criam conexões emocionais profundas com os personagens
- E, em alguns casos, a linha entre realidade e ficção simplesmente desaparece
O que dizem os especialistas
Psicólogos explicam que essa confusão toda não é exatamente novidade, mas está ficando cada vez mais comum. Com as redes sociais e a exposição constante dos famosos, fica difícil separar onde termina o personagem e onde começa a pessoa real.
"Quando acompanhamos histórias diariamente, nosso cérebro começa a processar aqueles personagens como parte do nosso círculo social", explica uma psicóloga que preferiu não se identificar. É como se fossem amigos distantes, parentes que a gente nunca viu, mas conhece intimamente.
O padre Fábio, por sua vez, viu na situação uma oportunidade de reflexão. "Precisamos ajudar as pessoas a discernirem melhor entre o que é real e o que é ficção", ponderou. E faz sentido — num mundo onde as telas dominam nossa atenção, esse discernimento virou quase uma habilidade de sobrevivência emocional.
E agora, José?
O caso de Santa Catarina serve como alerta. Não que acompanhar novelas seja problema — longe disso. O perigo mora quando a gente perde completamente a noção do que é real e do que é inventado.
E você, já se pegou tão envolvido com uma história que quase esqueceu que era ficção? Já torceu para um personagem como se fosse da família? Pois é, a linha é mais tênue do que imaginamos.
No fim das contas, a história do padre que negou orações para uma personagem fictícia nos faz pensar sobre nosso lugar nesse mundo cada vez mais híbrido, onde realidade e fantasia dançam uma vala sinuosa — e a gente precisa aprender os passos para não tropeçar.