
O céu cinzento e as gotas persistentes que caíam nesta quinta-feira pareciam insignificantes diante da determinação que tomava conta da Via Dutra. Uma verdadeira maré humana — ou melhor, uma maré de fé — transformou a principal rodovia do país em um cenário de devoção que emocionaria até os mais céticos.
E pensar que muita gente cancela planos por causa de uma chuvinha... Mas esses peregrinos? Nem sequer piscaram. Carregando imagens de Nossa Senhora, bandeiras e — claro — aquela esperança que não molha, eles caminhavam como se o sol estivesse brilhando no auge do verão.
Operação especial para a fé
A Polícia Rodoviária, sabendo do que estava por vir, montou uma operação que beirava o militar. Dois helicópteros sobrevoavam a região, enquanto 120 agentes — sim, você leu certo — tentavam manter alguma ordem naquela multidão que desafiava qualquer estimativa.
O trânsito, é claro, ficou um caos. Mas um caos diferente, sabe? Daqueles que até valem a pena. Motoristas que normalmente xingariam o mundo pareciam mais pacientes, talvez contagiados pela atmosfera que transformava um simples engarrafamento em algo quase sagrado.
E não era só na Dutra não. As estradas vicinais, aquelas que normalmente vivem no anonimato, também viram sua vez de brilhar — ou melhor, de ser tomadas por peregrinos que preferiam caminhos alternativos.
Fé que vem de longe
O que mais impressionava era a diversidade geográfica. Tinha gente de todo canto do Vale do Paraíba — São José dos Campos, Taubaté, Caçapava — mas também almas corajosas que vieram de estados distantes. Minas Gerais, Rio de Janeiro... Parece que quando a fé chama, a distância vira detalhe.
E cada um com sua história, seu motivo, sua promessa. Uns caminhavam descalços — na chuva, imagine só — enquanto outros carregavam cruzes que pareciam pesar mais que eles mesmos. Tinha idoso que devia ter mais estrada na vida do que a própria Dutra, e criança que provavelmente não entendia completamente o que estava acontecendo, mas sentia a importância do momento.
Ah, e as bicicletas! Grupos de ciclistas devotos pedalando sob a chuva, demonstrando que existem muitas formas de chegar até a Santa — algumas mais rápidas, outras mais tradicionais, mas todas igualmente válidas.
Preparação é tudo
Os organizadores, é claro, não mediram esforços. Postos de atendimento médico espalhados pelo caminho — porque fé é bom, mas prevenir é melhor ainda — e equipes de resgate preparadas para qualquer eventualidade. Até o clima, que teimava em não ajudar, foi levado em consideração.
Os peregrinos mais experientes vinham preparados: capas de chuva, plásticos para cobrir as imagens, e aquela resignação típica de quem sabe que um pouco de desconforto físico não é nada perto do que espera alcançar.
E a cidade de Aparecida, lá no final do caminho, se preparava para receber essa enxurrada de fé — com o perdão do trocadilho. Hotéis lotados, comércio movimentado, e aquela atmosfera única que só as grandes festas religiosas são capazes de criar.
No final das contas, o que ficou claro hoje foi algo que todo brasileiro sabe, mas às vezes esquece: quando se trata de demonstrações de fé, nem a mais forte das chuvas é capaz de apagar a chama que queima no peito dos devotos. E isso, convenhamos, é mais bonito de se ver do que qualquer sol do mundo.