
Quem esteve na procissão do Círio de Nazaré deste ano em Belém presenciou algo que dificilmente esquecerá. No meio da multidão de fiéis, uma figura etérea dançava com graça incomum — era Maria Clara, 17 anos, bailarina que transformou sua promessa em pura poesia em movimento.
Ela não carregava velas nem andava como os demais. Seus pés deslizavam sobre o asfalto quente como se fosse o mais refinado palco do mundo. Cada plié, cada arabesque era uma oração em forma de dança. A moça — que parece ter saído de um conto de fadas — estava cumprindo uma promessa feita de coração.
O sonho italiano
Poucos meses atrás, Maria Clara vivia aquele tipo de ansiedade que só quem espera por uma resposta importante conhece. Ela havia se candidatado para uma vaga na prestigiada Accademia di Danza di Roma — uma daquelas oportunidades que aparecem uma vez na vida, sabe?
Quando o e-mail de aprovação chegou, a alegria foi tanta que ela mal conseguia acreditar. "Foi como se o mundo inteiro tivesse parado por um instante", conta a jovem, seus olhos ainda brilhando com a lembrança. Mas veio também aquele friozinho na barriga — como agradecer por uma benção tão grande?
A promessa diferente
Foi então que ela lembrou das histórias que sua avó contava sobre o Círio. "Minha avó sempre dizia que cada um agradece do seu jeito. E o meu jeito é dançando", explica Maria Clara, com aquela convicção que só os muito jovens — ou os muito sábios — possuem.
E assim foi. Enquanto milhares de pessoas caminhavam em direção à Basílica de Nazaré, ela transformou a procissão em seu palco sagrado. Vestida com collant e saia de tutu — sim, no meio de toda aquela multidão — a bailarina executou coreografias de balé clássico durante todo o percurso.
Reações emocionadas
Os fiéis ao redor não sabiam bem como reagir a princípio. Alguns paravam para observar, outros se emocionavam visivelmente. Dona Marta Silva, 65 anos, que acompanha o Círio há décadas, não conteve as lágrimas. "Nunca vi nada igual", confessou. "É a fé se manifestando de um jeito novo, mas com a mesma força de sempre."
Os policiais que faziam a segurança do evento inicialmente ficaram perplexos — afinal, não é todo dia que se vê uma bailarina executando passos de Giselle no meio de uma procissão religiosa. Mas rapidamente entenderam a situação e até abriram espaço para que ela pudesse dançar com mais liberdade.
Fé que dança
O que mais impressiona — além da coragem da jovem, é claro — é como ela conseguiu unir duas paixões aparentemente distantes: a tradição religiosa do Círio e a arte do balé. "Minha dança é minha oração", ela afirma, com uma simplicidade que dispensa maiores explicações.
Nos próximos meses, Maria Clara embarca para Roma, onde vai estudar na mesma escola que formou alguns dos maiores nomes da dança mundial. Mas ela já prometeu: no ano que vem, estará de volta ao Círio — nem que seja para dançar de longe, do outro lado do oceano.
Enquanto isso, a imagem da bailarina dançando em meio aos devotos do Círio já se tornou uma das recordações mais marcantes desta edição de 2025. Quem viu, garante que presenciou algo especial — aqueles momentos raros em que a fé e os sonhos se encontram, literalmente, no mesmo passo de dança.