
O samba vestiu luto nesta segunda-feira, e não é exagero dizer que cada tamborim tocou mais baixo. Gilson de Oliveira, aquele que todos conheciam como Gilsinho, partiu aos 58 anos — e o Rio de Janeiro inteiro parece mais silencioso.
Que ironia do destino, não? O homem que dedicou a vida a fazer multidões cantarem agora nos deixa em completo silêncio.
Uma voz que era sinônimo de Portela
Quando Gilsinho abria a boca para cantar, algo mágico acontecia. Não era apenas uma voz — era a própria alma da Portela se manifestando. Durante anos, esse cara foi praticamente a trilha sonora oficial da azul-e-branco de Madureira. Quem nunca viu aqueles vídeos dele puxando sambas-enredo com uma energia que dava inveja em gente de 20 anos?
E pensar que tudo começou de forma tão simples... Daquelas rodas de samba de boteco, das comunidades, até se tornar um dos nomes mais respeitados do carnaval carioca. A estrada foi longa, mas ele percorreu cada metro com a humildade de quem sabe que o samba é maior que qualquer um de nós.
O adeus que pegou todos de surpresa
A notícia veio como um soco no estômago. Na tarde de segunda-feira, 30 de setembro, Gilsinho não resistiu a uma parada cardiorrespiratória — essas coisas que a gente nunca espera, mas que acontecem quando menos se imagina. O Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, no Acari, tentou de tudo, mas algumas batalhas a medicina ainda não venceu.
O velório? Ah, vai ser daqueles que marcam época. Na quadra da Portela, claro — onde mais poderia ser? Quarta-feira, a partir das 10h, quem quiser se despedir desse gigante vai ter a chance. O corpo segue depois para o Cemitério de Irajá, num último adeus que promete reunir meio mundo do samba.
E a família... Coitada da família. Deixa a esposa Marli Oliveira, os filhos — que devem estar destroçados — e aquela legião de fãs que nem parentes eram, mas se sentiam como tal toda vez que ele cantava.
O legado que não morre
É curioso pensar como algumas pessoas se tornam maiores que a vida. Gilsinho era uma delas. Sua voz não era apenas mais uma no carnaval — era aquela que dava arrepios, que fazia o pessoal parar tudo pra ouvir.
O samba perdeu hoje não só um intérprete, mas um pedaço da sua história viva. E o Rio — ah, o Rio perdeu um daqueles personagens que fazem a cidade ser o que é: vibrante, emocionante e cheia de alma.
Mas sabe de uma coisa? Por mais clichê que possa parecer, Gilsinho não se foi completamente. Toda vez que a Portela entrar na Marquês de Sapucaí, toda vez que alguém puser um samba dele pra tocar, ele estará lá. Presente. Eterno.
O palco físico ficou vazio, mas o eco da sua voz vai continuar reverberando por muitas gerações. É assim que morrem os grandes artistas: eles simplesmente trocam de platéia.