O Carnaval de rua de Piracicaba, no interior de São Paulo, pode não acontecer em 2026 da forma como a população conhece. A realização dos desfiles de blocos e cordões está envolta em incertezas devido à falta de diálogo e definições por parte da Prefeitura Municipal, conforme alerta o Coletivo de Cordões, Blocos e Manifestações da Cultura Popular do Carnaval de Piracicaba.
Pedidos dos blocos aguardam resposta da gestão municipal
Os organizadores do carnaval piracicabano já entregaram um documento à administração do prefeito Helinho Zanatta (PSD) com uma série de solicitações consideradas essenciais para viabilizar os festejos. Entre os itens listados estão:
- Cachês para artistas e grupos participantes
- Estrutura de som, incluindo trio elétrico
- Palco e infraestrutura técnica
- Serviços de segurança pública e apoio operacional
- Fechamento de vias pela Secretaria de Segurança, Trânsito e Transportes
- Serviços de limpeza urbana durante e após os eventos
- Instalação de banheiros químicos
- Divulgação no calendário oficial do município
Apesar da entrega do documento e de um pedido de reunião com o chefe do executivo, nenhuma resposta concreta foi obtida até o momento, conforme relatado pela arte educadora e produtora cultural Natália Benoti, integrante do coletivo e da coordenação do bloco Pira Pirou.
Atraso nas definições já causa prejuízos à organização
Natália Benoti explica que o atraso nas decisões municipais está prejudicando o trabalho dos blocos já nesta fase inicial. Historicamente, a prefeitura costuma definir todos os detalhes e repasses financeiros até duas semanas antes do Natal, permitindo um planejamento antecipado.
"Esse ano a gente não sabe de nada", afirmou a produtora. "A gente não sabe nem se a gente vai ter essa reunião [com a prefeitura] e nem se a verba vai continuar mais ou menos sendo a mesma, se vai diminuir, até por conta dessa mudança de passar para a responsabilidade da Secretaria de Turismo. Então, a gente já está sendo prejudicado porque a gente não sabe quanto que a gente vai ter para fazer cada bloco".
Ela reforçou que os valores solicitados já são "bem enxugados", visando a máxima eficiência dos recursos públicos.
Crescimento da festa popular e patrimônio cultural em risco
O coletivo ressalta que, na última década, Piracicaba viveu um processo notável de crescimento e qualificação do seu Carnaval de rua. Blocos e cordões, com muita criatividade, organização e engajamento comunitário, foram responsáveis por resgatar o caráter popular e artístico dessa manifestação cultural.
Esse movimento resultou em avanços na qualidade artística e musical das apresentações, além de um aumento expressivo no número de agremiações, participantes e público. Atualmente, o coletivo representa 17 blocos, cada um com sua história única.
"Cada bloco tem sua história, que é maravilhosa, precisa ser respeitada e conhecida, que é um patrimônio imaterial, e a gente pode perder isso", alertou Natália, destacando o risco que a indefinição representa para a cultura local.
Posicionamento da Prefeitura de Piracicaba
Em nota oficial, as Secretarias Municipais de Turismo e de Cultura informaram que os representantes do coletivo serão convidados para uma reunião com os secretários ainda neste mês. Na ocasião, será apresentada uma explicação sobre o edital de credenciamento para os blocos e sobre o orçamento destinado à realização do Carnaval 2026.
A espera agora é para que o diálogo se concretize e que as tradicionais manifestações, como o Cordão do Mestre Ambrósio e o Bloco da Ema, possam continuar colorindo e animando as ruas de Piracicaba, preservando um patrimônio cultural que é de toda a comunidade.