
O Rio de Janeiro acordou mais silencioso nesta segunda-feira. A notícia chegou como um daqueles golpes que a gente até espera, mas nunca está realmente preparado para receber. Marceu Vieira se foi. Aos 67 anos, depois de uma luta intensa contra um câncer, o jornalista, escritor e — ah, como ele era compositor! — partiu deixando um vazio que poucos saberão preencher.
Quem acompanhava seu trabalho sabe: Marceu não era apenas mais um nome na praça. Tinha aquela rara combinação de talento e humanidade que faz falta nestes tempos tão apressados. Começou sua carreira no glorioso Jornal do Brasil, lá nos anos 80, e rapidamente mostrou que tinha algo diferente. Não era só escrever bem — era sentir a cidade, entender suas nuances, capturar sua alma.
Das redações aos palcos
Parece até clichê dizer, mas o homem era múltiplo. Enquanto muitos se contentam em dominar uma área, Marceu transitava entre o jornalismo político, a crítica cultural e a composição como quem muda de conversa num boteco. E em todas deixava sua marca.
Seus textos? Tinham um ritmo, uma musicalidade que só quem realmente entende de samba consegue imprimir à prosa. Não à toa, suas crônicas no Globo conquistaram leitores fiéis — aqueles que cortam e guardam no bolso, sabe?
O legado que fica
Foram quatro livros publicados, cada um retratando um pedaço desse Rio que ele tanto amava. "Crônicas Cariocas", "Samba na Veia", "Rio de Histórias" e o mais recente, "Tempos Modernos". Este último, lançado ano passado, já mostrava um Marceu mais reflexivo, mas sem perder o bom humor que sempre o caracterizou.
E as músicas? Meu Deus, as músicas! Compôs para grandes nomes do samba, mas sempre manteve aquela discrição típica de quem valoriza mais a arte que os holofotes. Dizia que escrever letras era como contar pequenas histórias cantadas — e como ele contava bem!
O velório acontece neste exato momento no Cemitério Memorial do Carmo, no Caju. O enterro está marcado para as 16h. Vai ser difícil ver tanta gente reunida sem ouvir aquela sua risada característica ecoando pelo salão.
O Rio perde hoje um de seus cronistas mais sensíveis. O jornalismo, um profissional de texto afiado e opinião firme. A música, um compositor que entendia como ninguém a alma carioca. E nós, leitores e admiradores, perdemos um pouco daquela luz que só os verdadeiros artistas sabem acender.
Descanse em paz, Marceu. O samba hoje está mais triste, mas o céu ganhou um cronista de primeira.