
O debate esquentou de verdade. E olha que não era sobre futebol ou política brasileira, mas sobre algo que deveria unir as pessoas: a arte dos quadrinhos. Num encontro que prometia ser mais uma conversa descontraída entre artistas, transformou-se num verdadeiro campo de batalha ideológico.
De um lado, um quadrinista israelense — cujo nome ficou ecoando na sala — defendendo com unhas e dentes que a cultura não pode ser refém de conflitos políticos. Do outro, ninguém menos que Laerte, aquela figura tão querida e respeitada no mundo artístico brasileiro, questionando com sua calma habitual — mas firme — as responsabilidades éticas dos artistas.
O palco da discórdia
O ambiente, que começou leve, foi ficando pesado. Dá pra sentir na pele quando um assunto cutuca fundo, né? O artista israelense, sabe como é, veio com aquela velha máxima: "a arte transcende fronteiras". Mas será que transcende mesmo? Laerte, com aquela sabedoria de quem já viu muita coisa nessa vida, não deixou barato.
"Não dá pra separar totalmente a arte do contexto político onde ela nasce", disparou Laerte, numa daquelas frases que fazem a plateia ficar em silêncio absoluto. E não é que faz sentido? A gente vive num mundo onde tudo está conectado — ignorar isso seria como fingir que não está chovendo enquanto se molha até os ossos.
O argumento surpreendente
O que mais chamou atenção — e aqui vou ser sincero — foi a firmeza do quadrinista israelense. Num momento onde muitos artistas internacionais evitam polêmicas como o diabo foge da cruz, ele foi direto ao ponto: boicotes culturais são, na visão dele, um tiro no pé. "Isolamento nunca levou ninguém a lugar nenhum", argumentou, com aquela convicção que só quem vive o conflito no dia a dia pode ter.
Mas espera aí. Laerte, sempre perspicaz, rebateu: "E quando a arte serve para lavar a imagem de regimes opressores?" Pronto. Era como se alguém tivesse jogado uma bomba no meio da conversa. A plateia ficou dividida — dava pra ver nos olhos das pessoas aquela dúvida: até onde vai nossa responsabilidade como artistas e consumidores de cultura?
Um debate que não acaba aqui
O interessante — e isso é importante destacar — é que ninguém saiu convencido totalmente. Nem mesmo os debatedores. Laerte, ao final, admitiu que a questão é mais complexa do que parece. "Não há respostas fáceis", confessou, com aquela honestidade intelectual que a gente admira.
Já o quadrinista israelense manteve sua posição, mas reconheceu o valor do debate. "Discutir é melhor que ignorar", concluiu, num daqueles momentos de lucidez que fazem valer a pena qualquer evento cultural.
E aí, ficou a pergunta no ar: até que ponto podemos — ou devemos — separar a arte do artista? Do contexto político? Das convicções pessoais? Uma coisa é certa: num mundo cada vez mais polarizado, debates como esse são mais necessários do que nunca. Mesmo que não cheguem a um consenso — talvez especialmente por isso.