César Romero se despede em Feira: Artista plástico deixa legado de cores e afeto
Artista César Romero: Feira se despede com legado de cores

O silêncio na capela tinha um peso diferente naquela tarde de terça-feira. Não era o vazio, mas algo mais profundo - como se as cores vibrantes que César Romero espalhou por Feira de Santana durante décadas tivessem se recolhido por um momento para fazer-lhe companhia.

E olha que companhia não faltou. A cena era comovente: amigos de infância misturados a jovens artistas que ele mentorou, todos unidos pelo mesmo sentimento de gratidão. Uma dessas pessoas, a estudante de artes Maria Clara, me contou com os olhos marejados: "Ele me ensinou que pinceladas precisam ter alma, não apenas técnica". Que lição, não?

Mais que um artista, um contador de histórias

O que pouca gente sabe é que César quase seguiu outro caminho. Aos 20 anos, prestes a entrar no curso de direito, teve um daqueles momentos de clareza - ou seria teimosia? - e decidiu que seu lugar era entre tintas, telas e a poesia visual que só a Bahia sabe inspirar.

E que sorte a nossa! Suas obras, espalhadas por coleções particulares e espaços públicos, não são apenas pinturas. São pedaços da alma feirense traduzidos em cores. Um amigo dele, o também artista Roberto Almeida, lembrou: "César tinha um jeito único de capturar a luz do sertão - aquela dourada, que parece mel escorrendo no final da tarde".

O adeus que virou celebração

No velório, algo curioso aconteceu. Em vez do tradicional ambiente soturno, as pessoas começaram a compartilhar histórias - e risadas! - sobre as excentricidades do artista. Como a vez que ele insistiu em pintar o mesmo casarão histórico em três horários diferentes do dia, só para "capturar sua personalidade completa".

Talvez seja esse o maior legado de César Romero: a compreensão de que a arte não é sobre perfeição, mas sobre verdade. Sua filha, Ana Paula, resumiu melhor do que qualquer crítico poderia: "Meu pai não deixou quadros, deixou sentimentos emoldurados".

O corpo foi cremado, mas - e isso é bonito de se pensar - suas cores continuam por aí. Nos muros da cidade, na memória de quem o conheceu, no jeito que novos artistas da região seguem ousando em seus trabalhos. Afinal, como ele mesmo costumava dizer, "arte que não provoca não é arte - é decoração".