Porto Alegre do Piauí: Onde a pesca e o vaquejismo resistem como tradições de família
Tradição viva: pesca e vaquejada no coração do Piauí

Imagine acordar com o cheiro de peixe fresco e o balido dos bois ao longe. Em Porto Alegre do Piauí, isso não é cenário de filme — é rotina. Gente como seu Raimundo, 62 anos, que nem lembra quando começou a pescar ('Acho que antes de aprender a andar', brinca), mantém viva uma tradição que desafia relógios e smartphones.

Nas águas do rio, histórias que não secam

Antes do sol nascer, já se vê as canoas deslizando. Não tem GPS, não tem sonar — o que guia são os olhos treinados de quem conhece cada curva do rio como a palma da mão. 'Meu avô dizia que peixe fugia de barulho e de gente apressada', conta Maria, 34 anos, enquanto conserta redes com movimentos precisos. O segredo? Paciência e respeito pela natureza — lição que repete pros três filhos.

Vaquejada: onde a poeira vira festa

Ao contrário do que pensam nas grandes cidades, vaquejada não é só esporte. É memória viva. Nos finais de semana, o arraial vira palco de uma tradição que mistura habilidade, música e aquela rivalidade saudável entre famílias. 'O meu neto de 8 anos já monta melhor que eu', ri o seu Zé, orgulhoso, ajustando o chapéu de couro que herdou do pai.

E não pense que é só nostalgia. A nova geração tá botando modernidade no meio — tem até influencer de vaquejada na região, mostrando os bastidores pra milhares de seguidores. Mas o essencial permanece: o cheiro de carne assada, o pó levantado pelos cascos, os abraços depois da competição.

Desafios no horizonte

Claro que nem tudo são flores. Com a seca mais intensa nos últimos anos, o rio já não dá como antigamente. Alguns jovens acabam indo pra cidade grande atrás de outros trabalhos. Mas tem os teimosos — como a família Silva, que criou um sistema de tanques pra garantir o sustento sem abandonar o ofício.

'Tem dia que a gente pensa em desistir', admite Dona Fátima, 57 anos, enquanto salga peixes. 'Aí lembro da minha mãe dizendo que tradição é como árvore — precisa regar todo dia pra não morrer.' E assim seguem, entre redes, arreios e histórias que não cabem em livros — só no coração de quem vive.