
Num cantinho quase escondido de Franca, no interior paulista, acontece uma revolução silenciosa. Não tem tiroteio, nem protesto — só chuteiras desgastadas e sonhos sendo remodelados a cada passe.
O projeto, que começou meio sem querer em 2019, virou referência na região. "A gente nem imaginava que ia pegar tanto", confessa o coordenador Marcos Rocha, enquanto ajusta as redes furadas do campinho. De segunda a sexta, o lugar que antes acumulava lixo agora acumula histórias de superação.
Mais que um jogo
O que diferencia essa iniciativa? Simples: aqui ninguém fica no banco. Nem literalmente, nem metaforicamente. Os 120 jovens participantes — entre 12 e 17 anos — não são avaliados só pelo desempenho esportivo. "Tem garoto que não sabe dominar uma bola, mas arrasa em matemática", brinca a psicóloga do projeto, Carla Mendes.
O esquema funciona assim:
- Aulas de futebol três vezes por semana (com direito a peneiras regionais)
- Acompanhamento psicológico quinzenal
- Reforço escolar personalizado
- Workshops de profissões — do pedreiro ao programador
E os resultados? De cair o queixo. Nos últimos dois anos, 78% melhoraram as notas na escola. Dois participantes foram contratados por times da região. E o melhor: zero casos de envolvimento com criminalidade entre os frequentadores assíduos.
"Aqui eu me achei"
Pedro, 15 anos, quase virou estatística. Depois que o pai foi preso, achou que seu destino estava traçado. "Eu tava indo pro buraco", admite, chutando uma pedra no chão. Hoje, sonha em ser técnico de futebol — e já ajuda nos treinos dos mais novos.
Já Maria Eduarda, 14, descobriu na arquibancada que queria ser médica. "Via os meninos se machucando e percebi que queria ajudar", conta, enquanto amarra as tranças para o treino.
O projeto sobrevive a duras penas — com doações esporádicas e muito trabalho voluntário. "Tem dia que a gente treina com bola murcha", riem os garotos, sem deixar o ânimo cair. A prefeitura prometeu verba, mas até agora... Bem, você sabe como é.
Enquanto isso, o jogo continua. E não só no campo. Porque transformar vidas, como bem sabem esses jovens, é um esporte coletivo.