
Imagine acender uma lamparina em 2025 para iluminar a casa. Parece cena de filme histórico, mas é o cotidiano da família Silva* no Sul de Minas. Há 53 anos — quando o homem pisou na Lua — eles vivem sem energia elétrica na propriedade rural.
E não é por falta de tentativas. "Já fizemos abaixo-assinado, falamos com políticos, mas sempre enrolam", conta o patriarca, de 78 anos, enquanto acerta o pavio de um lampião a querosene. O cheiro do combustível se mistura ao café coado no fogão à lenha.
Água? Só do poço
Se a luz é problema, a água encanada então... "Aqui a gente trata poço como cavalo de batalha", ri a matriarca, mostrando o balde enferrujado que usa há décadas. O filho mais novo — hoje com 40 anos — nunca tomou banho de chuveiro elétrico.
- Banho? Balde e caneca mesmo
- Geladeira? Sonho distante
- TV? Só quando visitam os vizinhos
Curiosamente, a casa fica a apenas 15 km da sede municipal. "Mas parece outro país", comenta um técnico da prefeitura que pediu anonimato. A concessionária de energia alega "dificuldades técnicas" devido ao terreno acidentado.
Rotina de outro século
Às 5h30, quando a maioria acorda com despertador, dona Maria* já está tirando leite à luz de velas. O rádio à pilha — único contato com o mundo — só liga nas notícias importantes. "Quando a pilha acaba, ficamos no escuro até literalmente", brinca o neto adolescente.
Na cozinha, o fogão à lenha esquenta a panela de ferro enquanto:
- O café ferve sem pressa
- O pão de milho assa na chapa
- As histórias da noite anterior são contadas
Os filhos adultos, que foram para a cidade, ofereceram ajuda. "Mas aqui é nossa raiz", defende o patriarca, apontando para as mangueiras que plantou quando jovem. Apesar das dificuldades, a família mantém um estoque de pilhas, querosene e — principalmente — bom humor.
*Nomes alterados a pedido da família