
Parece que a política econômica dos Estados Unidos resolveu entrar no roteiro do cinema brasileiro — e não como coadjuvante. As recentes tarifas impostas por Donald Trump, aquelas mesmas que andam dando o que falar nos noticiários econômicos, podem ter um impacto direto e bastante desagradável na nossa produção cinematográfica. Quem diria, não é?
O que acontece é que essas medidas, aparentemente distantes do mundo artístico, criam uma barreira comercial que pode — pasmem — prejudicar a participação de filmes nacionais em festivais internacionais importantes. Cannes, Veneza, Berlim e até o próprio Oscar podem ficar mais distantes.
O jogo geopolítico entra em cena
Não é exagero. A relação entre Brasil e Estados Unidos, com essas tarifas em vigor, fica necessariamente mais tensa. E o cinema, como expressão cultural de um país, acaba refletindo essas tensões. Os curadores e jurados dos festivais, mesmo que inconscientemente, podem ser influenciados pelo clima político.
É como se, de repente, nossos filmes carregassem um peso extra — um estigma geopolítico que nada tem a ver com sua qualidade artística. Injusto? Totalmente. Mas é a realidade com a qual teremos que lidar.
Os números contam outra história
Os custos de produção e distribuição internacional podem aumentar significativamente. E quando falamos de cinema independente — que já opera com orçamentos apertados — cada centavo conta. As tarifas funcionam como um imposto invisível sobre nossa capacidade de competir globalmente.
Imagine um produtor brasileiro tentando fechar acordos de distribuição nos EUA nesse contexto. As negociações ficam mais duras, as resistências maiores. É uma batalha que começa muito antes das câmeras rolarem.
E o Oscar? Esquece?
Calma, não é tão simples assim. A Academia — aquela que distribui os Oscar — sempre se apresentou como apartidária. Mas será que na prática é assim? A escolha de filmes internacionais sempre carrega um componente político, mesmo que disfarçado.
Com as relações Brasil-EUA sob tensão, nossa representatividade na categoria de Melhor Filme Internacional pode ser afetada. Não por uma decisão explícita, mas por aquele viés sutil que sempre existiu na diplomacia cultural.
É aquela história: quando a economia espirra, a cultura pega pneumonia.
O contra-ataque possível
Mas nem tudo está perdido. A comunidade cinematográfica brasileira tem histórica resiliência — estamos acostumados a criar maravilhas com poucos recursos. Talvez essa seja a hora de:
- Fortalecer parcerias com outros mercados, como Europa e Ásia
- Investir em coproduções que diluam o impacto das tarifas americanas
- Explorar plataformas de streaming como alternativa às distribuições tradicionais
E tem mais: a qualidade dos nossos filmes continua excepcional. No final das contas, uma boa história bem contada ainda é nossa maior arma.
O show tem que continuar
O cinema brasileiro sobreviveu a ditaduras, crises econômicas e cortes de verbas. Sobreviverá a Trump também. Mas é importante entender que as regras do jogo mudaram — e precisamos nos adaptar.
Os próximos festivais serão um teste importante. Veremos se nossa criatividade consegue falar mais alto que as barreiras comerciais. Eu, particularmente, aposto no talento nacional.
Porque no fim, o que importa mesmo é a magia do cinema — e essa, felizmente, ainda não tem tarifa que impeça sua exportação.