
Não é de hoje que o cinema nacional vive uma ebulição criativa — mas e quando o assunto é a produção que brota longe dos holofotes do eixo Rio-São Paulo? Bruno Bini, um nome que respira produção cultural há tempos, jogou uma luz sobre essa questão e o que ele disse é, no mínimo, revelador.
O público, segundo ele, não aguenta mais mais do mesmo. Está ali, nas salas escuras ou na tela do computador, esperando por algo que o surpreenda. Algo que venha de um lugar inesperado. Algo como… Mato Grosso?
Exatamente. Bini defende, com a convicção de quem está na trincheira, que a plateia contemporânea anseia por narrativas frescas, visões de mundo que não sejam as que a gente já viu um milhão de vezes. E adivinha de onde podem vir essas perspectivas? Dos cineastas regionais, que carregam nas lentes suas próprias vivências, seus sotaques, suas paisagens humanas e geográficas únicas.
Um Grito por Autenticidade
O cerne da fala de Bini é um soco no estômago da mesmice. Ele percebeu — e isso é fascinante — que há uma fome genuína por filmes que não tentem copiar fórmulas de sucesso internacional ou reproduzir estéticas já gastas. As pessoas querem se conectar com realidades diferentes, mas reais. Querem se ver, mas também querem enxergar o outro. E o cinema de Mato Grosso, com sua bagagem cultural densa e diversa, tem tudo para ser essa janela.
Não se trata apenas de fazer filmes sobre Mato Grosso, entende? Trata-se de fazer filmes a partir de Mato Grosso. Com uma ótica mato-grossense. É uma diferença sutil, mas brutal. É sobre impregnar a narrativa com a poeira dos cerrados, com o ritmo lento das cidades do interior, com a complexidade das histórias que nascem no centro do país.
Os Desafios (Que São Muitos)
Claro, não é um mar de rosas. Bini não ignora os obstáculos monumentais que existem na produção regional. A falta de verba é um clássico, uma pedra no sapato de todo artista. A dificuldade de acesso a editais, a distribuição capenga… às vezes parece que é uma luta contra gigantes.
Mas e daí? O que ele deixa transparecer é uma teimosia hopeira. Uma crença de que o conteúdo bom, autêntico e necessário acaba conquistando seu espaço — mesmo que a estrada seja mais longa e cheia de curvas. A internet e as plataformas digitais, nesse sentido, são aliadas poderosas, democratizando o acesso e permitindo que um filme feito em Cuiabá ecoe até nos grandes centros.
O recado de Bruno Bini é claro: a janela de oportunidade está aberta. O público está de olho. Está na hora de o cinema mato-grossense ocupar seu lugar de fala e mostrar ao Brasil — por que não ao mundo? — que tem histórias poderosas para contar. E que venham os novos olhares.