
Numa daquelas conversas que rendem mais do que uma simples nota de entrevista, Wagner Moura soltou o verbo. E como soltou. O ator, conhecido por papéis que beiram a intensidade máxima, não fez cerimônia ao comentar um tema espinhoso: a ausência gritante de muitos colegas de profissão nos recentes atos públicos contra a famigerada PEC da Blindagem.
«É complicado, né?», começou ele, com um tom que misturava cansaço e indignação. «A gente vive um momento decisivo, e não dá pra ficar no muro. Arte e política são irmãs siamesas, quer queiram, quer não.» A fala, dada num evento cultural em São Paulo, ecoa um mal-estar que ronda a classe artística.
O Palco Vazio da Política
Moura, que já interpretou desde capitães do mato a revolucionários, sabe bem o peso de um palco. E, pra ele, a arena política é o palco mais importante da atualidade. «Não se trata de ser de esquerda ou direita», argumenta, gesticulando. «Trata-se de estar presente. De não ter medo de se posicionar. O silêncio, às vezes, é mais barulhento que qualquer discurso.»
Ele especula—sim, especula, porque ninguém tem a fórmula exata—sobre os motivos que afastam os artistas. Medo de represálias? Preocupação com a imagem? Puro comodismo? «Pode ser um coquetel de tudo isso», pondera. «Mas a história não perdoa a omissão. Daqui a alguns anos, vão perguntar: onde você estava quando a democracia precisou de voz?»
Não é uma Questão Nova, Mas Urgente
O baiano de Salvador lembra que essa não é a primeira vez que o tema vem à tona. A relação entre celebridades e causas políticas sempre foi um campo minado. Uns abraçam, outros fogem como o diabo foge da cruz. A diferença agora, segundo ele, é a urgência. «A PEC não é um assunto qualquer. Ela mexe com a estrutura do país, com a vida de todo mundo. Fingir que não é conosco é, no mínimo, ingenuidade.»
E finaliza com uma provocação que não deixa margem para dúvidas: «Quem cala, consente. E o preço do consentimento, neste caso, pode ser alto demais para as futuras gerações.»