Presépio de 9 metros: tradição familiar de 40 anos ilumina Natal em Presidente Prudente
Presépio de 9 metros é tradição de 40 anos em Prudente

Com a chegada do Natal, as demonstrações de fé ganham vida nos lares brasileiros. Em Presidente Prudente, no interior de São Paulo, uma tradição familiar que atravessa gerações completa quatro décadas, transformando o quintal de uma casa em um impressionante presépio que mede nove metros de comprimento por quatro metros e meio de largura.

Uma história que começou pequena e cresceu com a fé

O projeto monumental é resultado da dedicação do casal Benedita Galdino Pinheiro, de 76 anos, e Nelson Aparecido Pinheiro, de 80 anos. A iniciativa nasceu logo após o casamento, inspirada pelas memórias de infância de dona Benedita. "Começamos com meio metro. Cada ano a gente foi comprando as pecinhas e foi aumentando, para chegar a esse tamanho que está agora", relembra ela com carinho.

Para seu Nelson, o passar dos anos só trouxe aperfeiçoamento. "Quanto mais passamos o tempo, mais vamos aprimorando as coisas. Temos gratidão em fazer isso", afirma. A estrutura, montada sobre cavaletes e tabuados cobertos com grama sintética, representa muito mais que uma decoração: é um exercício de paciência e memória afetiva.

Três cenários que contam uma história de fé e família

O presépio não se limita à representação do nascimento de Jesus. Ele é dividido em três partes narrativas distintas. A primeira se concentra no nascimento do Menino Jesus, ambientado na simplicidade e pobreza entre os animais.

A segunda parte é uma viagem ao passado do casal: a "parte do sítio" retrata a vida sacrificada na roça, com detalhes como fogão a lenha, poço e plantações de arroz. Este cenário foi pensado especialmente para ensinar aos mais jovens sobre as origens da família.

Por fim, a "cidade moderna" surge com casas, aeroporto e até um campo de futebol, fechando um ciclo que vai do passado rural ao presente urbano.

Um esforço coletivo que une gerações

A montagem é um verdadeiro trabalho em família, envolvendo filhos, genros e netos. O processo é longo e meticuloso, começando ainda em setembro e se estendendo por cerca de um mês e meio de trabalho, apenas no período da manhã para evitar o calor intenso da tarde. "Acabamos mesmo agora em dezembro", explica Benedita.

Com mais de 500 peças, o presépio se tornou um ponto de visitação não apenas para a família, mas também para moradores da região, que acompanham a tradição ano após ano.

Após o período natalino, toda a estrutura é desmontada e guardada com extremo cuidado. "O gostoso é montar. Se deixar direto, não tem graça. Nós desmontamos, guardamos tudinho para o próximo ano", relata a matriarca, destacando a expectativa de que a tradição continue.

Para Nelson, que recentemente passou por uma cirurgia e encontrou na montagem forças para se recuperar, o objetivo é claro: garantir que a tradição não se perca. "Esse presépio já vem com a tradição da nossa família, e cada vez mais passando para a família, os filhos, genros, os netos... para continuar, porque não pode parar", conclui, emocionado.

Em Lucélia, a fé ganha forma em tamanho real

A cerca de 80 km dali, em Lucélia, outra demonstração de devoção natalina chama a atenção. O aposentado Mário Gimenes, de 87 anos, materializa sua fé de forma diferente: através da escultura. Desde 2020, ele monta em sua casa um presépio com personagens em tamanho real, realizando um sonho de juventude.

Diferente das peças compradas, as imagens de Mário são esculpidas por ele mesmo em fibra de vidro e resina, em um processo artesanal que começa com a modelagem em argila. "Meu sonho era um presépio em tamanho maior. Então, aconteceu que comecei a trabalhar, mexer com fibra de vidro, e consegui modelar e fazer as imagens", conta.

A atenção aos detalhes, como olhos idênticos aos humanos e tons de pele realistas, emociona os visitantes, que podem chegar a 600 pessoas em uma única noite. Neste ano, a novidade foi a inclusão de um boizinho e uma vaquinha, além de um anjo com raios de luz variados.

Assim como em Prudente, a família é o pilar da obra. Enquanto Mário cuida das esculturas, sua esposa, Aparecida, costura as vestimentas, e as filhas e genros ajudam na montagem da estrutura que imita uma gruta. A exposição, localizada na Avenida Antônio Chavareli, 974, em Lucélia, fica aberta ao público diariamente, das 19h às 22h30, até o dia 6 de janeiro.

Mário, que também enfrentou desafios de saúde, vê no presépio um motivo para seguir adiante. "Eu aguento até onde a saúde deixar, e os filhos aguentarem ajudar na montagem. Depois vou ter que passar pra alguém que tenha vontade, mas agora pretendo continuar montando", afirma, demonstrando a mesma determinação que mantém viva a tradição em Presidente Prudente.