Uma experiência visual única está prestes a transformar a comunidade Tavares Bastos, na Zona Sul do Rio de Janeiro, em uma galeria a céu aberto. A exposição "Imagens do Beco", do renomado fotojornalista Severino Silva, nascido e criado no local, convida o público a mergulhar na arte, memória e identidade do morro. A abertura está marcada para o próximo sábado, dia 13 de dezembro.
Um olhar detalhista sobre a vida na comunidade
A mostra promete exibir pelo menos 50 fotografias que capturam a essência do cotidiano da Tavares Bastos. Com foco especial em temas como religião e a vida diária, as imagens de Severino Silva vão além do registro jornalístico, alcançando a poesia das vielas, a cor das casas e as histórias de força e esperança estampadas nos rostos dos moradores.
Idealizada junto com o especialista em audiovisual Jardel Brito, a exposição tem um caráter profundamente transformador e comunitário. Severino Silva não vê o projeto apenas como uma mostra de arte, mas como um abraço coletivo que celebra e afirma a potência cultural da periferia.
"É uma alegria imensa poder liderar esse projeto inédito, que nasce do coração da comunidade e para ela", afirma o fotógrafo. "Tenho certeza de que vai movimentar a cultura do morro e, principalmente, servir de exemplo para inspirar novos talentos."
Mais do que cultura: um ato de resistência
"Imagens do Beco" se configura como um gesto de resistência e resiliência. É um convite para enxergar a favela com novos olhos, desconstruindo preconceitos e valorizando sua produção artística autêntica. A expectativa é que o evento marque um encontro histórico entre arte e território, onde cada foto carregue o pulsar da comunidade.
"Será, sobretudo, a celebração da identidade periférica", avalia Severino. "Porque quando o morro se revela, o Rio inteiro aprende a enxergar diferente."
A exposição será inaugurada às 13h do dia 13 de dezembro, no final da Rua Tavares Bastos, ponto final das kombis. A visitação poderá ser feita até a meia-noite. Moradores atuarão como guias para os visitantes, e a experiência será ampliada com projeções de fotos em telão e exibição de recortes de jornais.
O fotógrafo por trás das lentes: um mestre reconhecido mundialmente
Severino Silva não é um fotógrafo qualquer. Com uma trajetória de mais de três décadas, ele é considerado um dos maiores fotógrafos documentais do Brasil e do mundo. Seu trabalho ganhou projeção internacional quando a National Geographic o apontou como um dos maiores fotógrafos de comunidades do planeta, elogiando sua capacidade única de narrar histórias de dor, afeto e dignidade.
Referência na cobertura de temas como polícia, direitos humanos e o cotidiano das favelas cariocas, Silva coleciona prêmios. Um de seus trabalhos mais marcantes, uma sequência dramática que mostra um jovem sem os braços fugindo de uma ação de combate ao crack, lhe rendeu o prestigiado Prêmio Vladimir Herzog.
"É triste, é doloroso, mas a gente tem que mostrar tudo isso à sociedade. É uma missão", declarou o fotógrafo em entrevista ao jornal britânico The Guardian, que também o considera um dos principais fotógrafos que cobrem crimes no Brasil.
Paralelamente ao fotojornalismo, Severino desenvolve o projeto pessoal "Fé, Luz e Sombras", no qual retrata a religiosidade no Rio e no Nordeste brasileiro através de um jogo de luz e sombra.
A comunidade que inspira: Tavares Bastos
Localizada entre os bairros do Catete e Laranjeiras, a comunidade Tavares Bastos é um dos símbolos do Rio de Janeiro. Com cerca de 10 mil moradores, é conhecida por sua vista panorâmica deslumbrante e por abrigar o quartel do Batalhão de Operações Especiais (Bope).
O morro se destaca pela rica vida cultural e pela convivência harmoniosa entre antigos residentes e novos artistas que buscam inspiração em suas ruas estreitas e vielas vibrantes. Esse espírito comunitário e criativo faz da Tavares Bastos o cenário perfeito para uma exposição que pretende atrair olhares do mundo todo para a arte que floresce na periferia.