
Quem diria que a fictícia empresa da inesquecível vilã Odete Roitman, aquela que fez milhões de brasileiros torcerem de raiva nas noites de 1984, ainda daria tanto o que falar quatro décadas depois. O prédio que serviu de cenário externo para as tramoias da personagem em 'Vale Tudo' — e que hoje, ironicamente, abriga setores da Universidade Federal do Rio de Janeiro — está com os dias contados no patrimônio da instituição.
Parece roteiro de novela, mas é a pura realidade: o imóvel localizado na Avenida Presidente Wilson, no Centro do Rio, vai a leilão. E olha, essa história tem mais reviravoltas que capítulo de final de novela das nove.
Uma disputa que já dura anos
A trama começou em 2017, quando a Receita Federal — sempre ela — penhorou o bem por conta de dívidas trabalhistas da antiga proprietária, a Construtora Norcon. Desde então, a UFRJ travava uma verdadeira batalha judicial para manter o espaço, que abriga nada menos que a Reitoria, a Coordenação de Programas de Pós-Graduação e outros setores vitais.
Mas a vida, assim como as novelas de Glória Perez, tem seus capítulos surpreendentes. O reitor Carlos Frederico Leão Rocha, em entrevista exclusiva, não esconde o alívio. "É um desfecho maravilhoso", confessou, com um sorriso que dava para ouvir mesmo através do telefone. "A gente conseguiu transformar uma situação extremamente complicada numa solução que beneficia todo mundo."
Os números por trás do drama
O leilão está marcado para o dia 29 de outubro, com lance mínimo estabelecido em R$ 46,7 milhões. Um valor considerável, mas que representa apenas parte da dívida original de R$ 70 milhões — a Receita abriu mão dos outros R$ 23,3 milhões, num gesto que surpreendeu até os mais otimistas.
E tem mais: se por acaso — e tomara que não — o leilão não atrair compradores, a UFRJ já tem um plano B na manga. A universidade pode exercer o direito de preferência e adquirir o imóvel pelo valor do lance mínimo. Uma jogada de mestre, digna dos melhores roteiristas.
Do glamour da TV à realidade universitária
É curioso pensar na trajetória desse prédio. Nos anos 80, representava o poder e a sofisticação da elite empresarial carioca — mesmo que fictícia. Hoje, abriga salas de reunião, corredores burocráticos e a mente de pesquisadores que certamente nunca imaginaram trabalhar num pedaço da história da televisão brasileira.
O reitor, aliás, parece genuinamente encantado com essa fusão entre cultura pop e academia. "É uma história que mexe com o imaginário das pessoas", reflete. "Todo mundo se lembra da Odete Roitman, da novela... E agora esse mesmo lugar vai ajudar no desenvolvimento da educação no nosso país."
Quase poético, não?
O que esperar do próximo capítulo
Enquanto aguardamos o desfecho do leilão, uma coisa é certa: o prédio da Avenida Presidente Wilson já garantiu seu lugar na história. Seja como cenário de novela, seja como espaço universitário, ou — quem sabe — como um novo empreendimento que herdará toda essa bagagem cultural.
Resta torcer para que o final seja realmente "maravilhoso", como promete o reitor. Porque, convenhamos, depois de tantas reviravoltas, essa história merece um desfecho à altura.