
Olha só que coisa mais interessante: um francês, daqueles acostumados com o rigor e a formalidade europeia, se rendendo de cara ao nosso famoso — e tão mal-compreendido — jeitinho brasileiro. Quem conta essa história é ninguém menos que Frédéric Martin, um empresário do ramo de decoração que veio parar por essas bandas e simplesmente se encantou.
Durante a SP-Arte, uma das mostras de arte e decoração mais badaladas do país, Martin soltou o verbo sobre o que viu por aqui. E não foi pouco. "É uma energia diferente, sabe?" — refletiu, com aquele sotaque que ainda carrega um pé na França. "As pessoas encontram soluções onde outros só veem problemas. Isso não é falta de método, é pura genialidade."
Do Rigor Francês à Liberdade Brasileira
O cara tem história. Com mais de vinte anos no mercado, já viu de tudo um pouco — mas confessa que o Brasil mexeu com ele de um jeito único. Enquanto na Europa tudo segue manuais e processos engessados, por aqui a coisa flui de maneira orgânica, quase musical. "É como comparar uma sinfonia clássica com um improviso de jazz", arriscou, numa analogia que diz muito.
E não para por aí. O que mais chamou sua atenção foi a capacidade de transformar limitações em vantagens. Materiais simples viram peças únicas, espaços apertados ganham funcionalidade surpreendente, e sempre com aquela pitada de alegria que é nossa marca registrada. "Eles não apenas resolvem — resolvem com estilo", destacou, visivelmente impressionado.
O Tal do Improviso que Dá Certo
Num dos eventos que organizou, Martin presenciou algo que, no velho mundo, seria considerado quase uma heresia. Faltava um elemento crucial da decoração horas antes da abertura. O que fizeram? Em vez de entrar em pânico, a equipe local criou uma solução alternativa tão criativa que acabou se tornando o ponto alto da exposição. "Fiquei de queixo caído", admitiu. "E o mais incrível: ninguém reclamou, ninguém buscou culpados. Simplesmente fizeram acontecer."
Essa mentalidade — focada na solução, não no problema — é algo que ele leva como lição. "No início, confesso, me dava nos nervos. Queria tudo planejado milimetricamente. Mas hoje entendo que há beleza nessa flexibilidade toda."
Mais do que uma Tática, uma Filosofia de Vida
O que Martin percebeu — e que muitos de nós, brasileiros, nem sempre valorizamos — é que o jeitinho vai muito além da gambiarra. Representa uma forma peculiar de enxergar o mundo, uma resiliência que nasce da necessidade e se transforma em virtude. "É a prova de que criatividade e restrição andam de mãos dadas", filosofou.
E ele vai além: acredita que essa característica tão nossa poderia ser um trunfo e tanto no mercado global. "O mundo precisa mais disso, dessa capacidade de se adaptar e criar com o que se tem. O Brasil exporta commodities, mas deveria exportar essa mentalidade."
Pois é. Enquanto muitos estrangeiros chegam criticando nossa informalidade, esse francês enxergou o que há de melhor nela. E saiu daqui não apenas com negócios, mas com uma lição de vida. Quem diria, hein?