Jane Goodall se despede aos 91 anos: o mundo perde a mãe dos chimpanzés
Jane Goodall, mãe dos chimpanzés, morre aos 91 anos

O mundo acordou mais silencioso nesta terça-feira. Jane Goodall, aquela britânica de cabelos grisalhos sempre presos num rabo de cavalo despretensioso, partiu aos 91 anos. A notícia chegou como um baque para quem acompanhava seus passos há décadas — e são muitos.

Lá se vai a mulher que, nos anos 60, chegou à Tanzânia sem diploma universitário, apenas com binóculos, um caderno e uma teimosia impressionante. Os cientistas da época torciam o nariz. "O que essa moça pode entender de comportamento animal?", cochichavam. Pois ela entendeu tudo.

Revolução na selva

Goodall não apenas estudou chimpanzés — ela conviveu com eles. Dava nomes, não números. Observou coisas que ninguém tinha coragem de imaginar: chimpanzés usando gravetos como ferramentas para pescar cupins, caçando em grupo, abraçando-se em momentos de tristeza. Coisa de gente, pensavam os acadêmicos mais tradicionais. Até que ela provou: a linha que nos separa dos outros animais é bem mais tênue do que imaginávamos.

Seu método? Pura paciência. Esperou meses até que os chimpanzés perdessem o medo. Sentava-se horas a fio, imóvel, observando. Às vezes nada acontecia. Outras vezes, revelações.

O legado que fica

  • Instituto Jane Goodall: espalhado por 30 países, continuando seu trabalho de conservação
  • Programa Roots & Shoots: mais de 150 mil jovens envolvidos em projetos ambientais
  • Mudança de paradigma: mostrou que os animais têm personalidades, emoções, cultura

Ela mesma dizia, com aquela voz suave que contrastava com suas convicções firmes: "O maior perigo para nosso futuro é a apatia". Quantas vezes não a vimos, já octogenária, viajando 300 dias por ano para espalhar sua mensagem?

O que me impressiona, pensando agora, é como uma pessoa pode fazer tanta diferença partindo de quase nada. Uma jovem secretária sem formação acadêmica que mudou completamente a primatologia — e nossa relação com a natureza. Isso sim é legado.

O mundo perdeu hoje não apenas uma cientista, mas uma contadora de histórias, uma ativista incansável, quase uma avó planetária. Resta o consolo de saber que suas sementes — literalmente — continuarão germinando.