
O que deveria ser o lugar mais seguro tornou-se um cenário de pesadelo. Na Zona Leste de Manaus, um simples apartamento transformou-se em palco de uma cena dantesca que vai deixar marcas profundas - e não só as físicas.
Nesta terça-feira (20), por volta das 19h30, a rotina do bairro Jorge Teixeira foi quebrada por gritos desesperados. De dentro de uma residência no conjunto Galileia, ecoavam vozes alteradas - mais uma discussão conjugal, pensariam os vizinhos. Mas essa briga tinha um ingrediente perverso: uma lâmina afiada nas mãos de quem jurara amor.
Ciúmes doentios e uma faca na mão
Testemunhas contam que tudo começou com uma discussão aparentemente comum. Ele, consumido por ciúmes patológicos, questionava insistentemente sobre supostos casos extraconjugais. Ela, grávida de três meses, tentava acalmar os ânimos - uma cena tristemente repetida em lares Brasil afora.
Mas dessa vez foi diferente. Muito diferente. Em um acesso de fúria irracional, o homem pegou uma faca de cozinha e desferiu golpes contra a mulher que carregava seu filho. Um, dois... quem sabe quantos golpes? A fúria cega não conta.
A gravidez - que deveria ser motivo de celebração - tornou-se agravante de uma tentativa de homicídio que beira o inconcebível. Como alguém consegue levantar a mão contra quem carrega sua própria semente?
Corrida contra a morte
Com ferimentos profundos no abdômen - região onde justamente se desenvolvia uma nova vida - a vítima foi levada às pressas para o Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto. Seu estado? Gravíssimo. Os médicos não mediram esforços: direto para o centro cirúrgico.
Enquanto isso, o autor da barbárie fez o que muitos covardes fazem: fugiu. Deixou para trás a mulher sangrando, a criança por nascer e qualquer resquício de humanidade que pudesse ter.
A Polícia Militar registrou o caso como tentativa de feminicídio - porque é exatamente disso que se trata quando um homem tenta matar uma mulher pelo simples fato de ser mulher. O IML foi acionado para perícia no local, coletando cada fragmento de evidência dessa tragédia anunciada.
O que sobra depois da facada?
Além das cicatrizes físicas - que podem até fechar com o tempo - restarão marcas profundas na psique dessa mulher. A traição máxima: ser atacada por quem deveria protegê-la. O ventre que abriga vida violado por quem ajudou a criá-la.
E a sociedade? Continua contando casos. Um a um, dia após dia, como se fossem números normais. Mas não são. Cada facada é um grito silencioso de um sistema que ainda falha brutalmente em proteger suas mulheres.
Enquanto escrevo estas linhas, a vítima luta entre a vida e a morte. Seu agressor permanece foragido. E uma pergunta ecoa no ar abafado de Manaus: quantas mais até que isso realmente importe?