
Às vezes a vida prega peças que ninguém merece. Imagine você: uma profissional do direito, acostumada a defender causas alheias, mas presa num casamento que era puro inferno. Pois é exatamente isso que aconteceu com uma advogada gaúcha que preferiu não ter o nome divulgado — e quem pode culpá-la?
Vinte anos. Duas décadas inteiras vivendo sob o jugo de um marido violento. Ela, que conhece as leis como a palma da mão, se viu enredada numa teia de medo e silêncio que parecia não ter fim. "A ficha demora a cair mesmo quando você é da área", confessa, num daqueles momentos de rara franqueza que doem na alma.
O Peso do Silêncio
O que mais machuca? Talvez seja a contradição brutal de ser especialista em direitos e não conseguir exercer os próprios. Ela mesma admite: "A gente sabe a teoria, conhece os mecanismos de proteção, mas na prática... na prática é diferente". Quantas não se identificam com esse sentimento?
O estalo veio quando o medo já havia se tornado companheiro constante. Não foi um evento específico, mas sim o cansaço acumulado de anos de humilhação. A decisão de pedir ajuda — essa sim, foi a mais difícil.
Mãos Estendidas
E então aconteceu o inesperado: colegas de profissão notaram que algo estava errado. Não foi uma intervenção dramática, mas sim aquela conversa no corredor, aquele café oferecido com olhar compreensivo. A rede de apoio se formou quase sem querer.
"Quando contei minha situação, meus colegas não julgaram. Pelo contrário: me acolheram como eu nunca imaginei possível", relembra emocionada. A OAB-RS entrou na jogada, oferecendo suporte psicológico e jurídico — ironia do destino, a instituição que ela tanto conhecia profissionalmente agora a amparava pessoalmente.
Recomeço aos Pedaços
O caminho ainda é longo, isso ela não nega. A advogada agora está num abrigo seguro, tentando juntar os cacos de uma vida quebrada. Mas há esperança no olhar — algo que faltava há tempos.
"A violência doméstica não escolhe vítima por profissão ou classe social", reflete. "E o apoio de quem entende sua realidade faz toda a diferença."
Sua mensagem pra quem está na mesma situação? "Não tenha vergonha de pedir ajuda. A gente acha que é a única pessoa passando por isso, mas não é."
Enquanto isso, ela segue reconstruindo a vida, processo por processo, dia após dia. A justiça que tanto defendeu para outros agora busca para si — e dessa vez, com uma rede inteira torcendo por ela.