Indígena relata estupro por PMs em delegacia no AM: 'Trauma que nunca vai embora'
Indígena relata estupro por PMs no AM: 'Trauma eterno'

Ela segurava um copo de água com as duas mãos trêmulas enquanto contava a história que a persegue há meses. A voz quase sumia entre as lágrimas. "Quando fecho os olhos, ainda vejo a farda", diz a mulher indígena de 32 anos, vítima de um crime que chocou o Amazonas.

Dois PMs - aqueles que deveriam protegê-la - transformaram a delegacia num pesadelo. Era madrugada quando aconteceu. Ela estava detida por uma confusão boba, coisa de nada. "Achavam que eu estava bêbada, mas só cantava uma música da minha aldeia", explica, esfregando os olhos como quem tenta apagar imagens.

O relato que corta o coração

Primeiro veio o assédio. Palavras nojentas que ela preferiu não repetir. Depois, as ameaças: "Ninguém vai acreditar numa índia bêbada". Quando tentou gritar, um pano sujo foi enfiado na sua boca. O cheiro de mofo daquele pano ainda a faz passar mal.

  • Dois policiais envolvidos
  • Câmeras "misteriosamente" desligadas
  • Prova pericial confirmando violência

O pior? "Quando denunciei, riram da minha cara", conta, enquanto uma mosca insistente zumbia ao redor - detalhe banal que ficou gravado na memória dela, dessas coisas que a mente prende pra não focar no horror.

Justiça lenta, dor infinita

Passaram-se oito meses. Os PMs estão afastados, mas não presos. Enquanto isso, ela toma remédios pra dormir e evita até ir ao mercado - o uniforme dos caixas lembra as fardas. "Antes eu dançava nas festas da aldeia. Agora nem consigo ouvir tambor sem tremer", desabafa.

O caso tá parado naquela papelada infinita da justiça. Enquanto isso, a Promotoria garante que "tramita com prioridade". Prioridade pra quem? - ela pergunta, mordendo o lábio até sangrar.

"Me chamaram de mentirosa até minha própria família duvidou no começo"

Psicólogos que acompanham o caso alertam: o trauma de violência institucional é dos piores. "É como se o Estado, que deveria proteger, virasse o agressor", explica uma terapeuta que pediu pra não ser identificada - até os profissionais têm medo de represálias.

Agora, a coragem dessa guerreira indígena pode abrir caminho pra outras vítimas. Mas que tipo de sociedade somos, onde é preciso ser heroína pra conseguir o básico: justiça?