Menino de 10 anos perde visão após bullying e agressões na escola no Rio
Aluno perde visão após bullying na escola no Rio

Um aluno de 10 anos, vítima de bullying e agressões físicas dentro de uma escola municipal na Zona Norte do Rio de Janeiro, sofreu uma perda irreversível da visão do olho direito. O caso grave ocorreu na Escola Municipal Leonel Azevedo, localizada na Ilha do Governador, e será investigado pela Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV).

Histórico de violência e negligência

Segundo a mãe do menino, Lídia Loiola Cardoso, o filho, que está no 5º ano do ensino fundamental, era alvo constante de bullying devido a uma diferença física nos olhos, decorrente de um glaucoma congênito. As agressões partiam de alunos mais velhos, do 7º e 8º ano, e o problema se intensificou a partir do ano passado.

"Meu filho estuda aqui há 5 anos. Do ano passado para cá, começou a mudar o comportamento, não queria mais vir para a escola, nem ficar em sala de aula. Eu me preocupava e vinha na direção para tentar entender, mas nunca tivemos resposta", desabafou Lídia.

O primeiro episódio de violência registrado aconteceu em 2023, quando a irmã do menino, de apenas 6 anos, tentou defendê-lo e também teria sido agredida. Em abril de 2024, o caso foi formalmente registrado em ata da escola. A situação, no entanto, só piorou.

Agressões sistemáticas e falta de ação

Ao longo de 2023 e 2024, o estudante foi submetido a um verdadeiro calvário. Ele sofreu com piadas, teve seus óculos quebrados e foi vítima de agressões físicas que resultaram em lesões graves. Em um incidente, outro aluno colocou o pé à sua frente, fazendo-o cair e quebrar o pé. A direção da escola, segundo a mãe, teria dito que o menino "se jogou", ignorando relatos em contrário de colegas.

Em maio deste ano, após ser empurrado, a criança caiu e fraturou o nariz. A mãe afirma que procurou ajuda no Conselho Tutelar e na Corregedoria Regional de Educação, mas nunca houve uma reunião para tratar do caso de forma efetiva.

Agressão final e perda irreversível da visão

O episódio mais grave ocorreu no dia 18 de novembro, durante uma aula de educação física. O menino levou chutes e um soco direto no olho. Ele foi atendido inicialmente no Hospital Municipal Evandro Freire, na Ilha do Governador, e depois transferido para o Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio.

O impacto da pancada foi tão forte que deslocou a retina do olho direito. O laudo médico definitivo atestou uma perda irreversível da visão. A tragédia interrompeu também o brilhante desempenho acadêmico do garoto, que havia se classificado para duas finais de olimpíadas de matemática, mas não pôde participar das competições.

"É uma sensação de impunidade, de algo que aconteceu com meu filho, mas pode acontecer com qualquer um. Algo que prejudicou até mesmo o futuro dele", lamentou Lídia.

Repercussão e posicionamentos

O pediatra Daniel Becker classificou o caso como "terrível" e criticou a falta de intervenção da escola. Ele explicou que, no glaucoma congênito, o olho nasce maior devido à pressão alta, tornando-o ainda mais vulnerável a traumas.

Procurada, a Secretaria Municipal de Educação, comandada por Renan Ferreirinha, respondeu por nota. A pasta informou que instaurou uma sindicância para apurar o caso e que só foi notificada oficialmente nos últimos dias. O aluno apontado como autor da última agressão foi transferido para outra unidade escolar.

A secretaria afirmou ainda que, em situações de bullying, as escolas seguem o Protocolo de Prevenção, Proteção e Segurança Escolar, que prevê a convocação dos responsáveis, comunicação ao Conselho Tutelar e acompanhamento da convivência dos estudantes. Disse também que assistentes sociais e psicólogos realizaram ações de prevenção à violência na Escola Leonel Azevedo ao longo deste ano.

O caso levanta sérias questões sobre a efetividade das políticas de combate ao bullying e a proteção de crianças vulneráveis dentro do ambiente escolar.