19 abrigos clandestinos fechados no RJ: violações e resgate de idosos
19 abrigos clandestinos fechados no Rio

Operação fecha 19 abrigos clandestinos e resgata idosos em condições degradantes

O Rio de Janeiro, estado com uma das maiores populações idosas do Brasil, enfrenta um desafio urgente de garantir dignidade na velhice. 13% dos cariocas têm 65 anos ou mais, segundo dados do Censo de 2022, o que torna ainda mais preocupante o cenário descoberto pelas autoridades.

Neste ano, uma força-tarefa envolvendo a Secretaria Municipal de Envelhecimento Saudável, o Instituto de Vigilância Sanitária (IVISA-Rio) e a Polícia Civil resultou no fechamento de 19 abrigos clandestinos na capital fluminense. As ações permitiram o resgate de 132 idosos que viviam em condições absolutamente inadequadas.

História de superação: do cativeiro à dignidade

Entre os resgatados está Adailza Carneiro de Oliveira, de 75 anos, que relata ter passado mais de oito meses sem poder sair do quarto no local onde estava confinada. "Não tinha comida direito… A que a família levava, a gente não via", conta a idosa, emocionada.

As condições de higiene eram precárias: "Para tomar banho, davam um baldinho preto de obra". Adailza ainda relata que muitos idosos chegavam a ser hospitalizados por ficarem amarrados, sujos e usando fraldas por tempo indeterminado. "Eu rezava para alguém aparecer, fechar aquilo lá e tirar a gente de lá", lembra.

Da clandestinidade para instituição referência

Após o resgate, Adailza foi acolhida em uma instituição legalizada no bairro do Caju, que possui mais de cem anos de história e é reconhecida como referência no cuidado aos idosos. O local abriga atualmente 99 moradores e oferece:

  • Quartos individuais e compartilhados
  • Seis refeições diárias com acompanhamento nutricional
  • Atendimento por equipe multidisciplinar de saúde

A instituição é particular, com mensalidades entre R$ 6 mil e R$ 8 mil, mas também recebe idosos sem condições financeiras através de convênio com a prefeitura do Rio.

Fiscalização contínua e critérios para acolhimento

Atualmente, a capital fluminense conta com 212 instituições legalizadas para idosos, sendo a maioria da rede privada. Algumas mantêm parceria com o município para acolher pessoas que não podem arcar com os custos.

Felipe Michel, secretário municipal de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida, explica que famílias com renda de até um salário mínimo podem solicitar acolhimento institucional. "A família pode procurar a assistência social, que vai orientar sobre instituições legalizadas e conveniadas", afirmou.

Maria Claudia Castelo, gerente do IVISA-Rio, reforça que a fiscalização é permanente, mesmo entre estabelecimentos legalizados. "Ela pode ter a licença e não atender às boas práticas. Essa licença pode ser revogada; podemos inclusive cassar o alvará", alerta.

Envelhecimento populacional exige atenção urgente

O contexto do envelhecimento da população brasileira torna o tema ainda mais relevante. Entre 2000 e 2023, o país quase dobrou o percentual de pessoas com 60 anos ou mais - saltando de 8,7% para 15,6%, conforme dados do IBGE.

Para dona Adailza, a mudança representou um renascimento. "Tô vivendo maravilhosamente bem. Eu canto. Tô chorando de alegria por tanta coisa boa que tô passando aqui", celebra a idosa, que hoje experimenta a dignidade que sempre mereceu.