
O caso que chocou Campo Grande no ano passado toma um rumo inesperado — e, pra muitos, absolutamente incompreensível. O estudante de medicina responsável pela morte do corredor Valdir Pereira da Silva, de 56 anos, conseguiu na Justiça o direito de trocar de ares antes do seu julgamento.
Imagina só: você perde um ente querido num acidente de trânsito, aguarda meses por justiça, e eis que o réu simplesmente... se muda. Pois é.
O acidente que poderia ter sido evitado
Foi numa manhã de domingo, aparentemente tranquila, que tudo aconteceu. Valdir, corredor experiente e conhecido na cidade, fazia seu treino habitual pela Avenida Mato Grosso — um local, diga-se, nada amigável para pedestres. O estudante, então com 22 anos, dirigia seu Hyundai HB20 quando, segundo testemunhas, invadiu a ciclofaixa e atingiu Valdir pelas costas.
O impacto foi brutal. Valdir não resistiu. E o que se seguiu foi uma sequência interminável de processos, audiências e — agora — reviravoltas judiciais.
A decisão que divide opiniões
O juiz Eduardo Machado, da 1ª Vara do Júri, não viu problemas em liberar a mudança do estudante para São Paulo. Alegou-se que o réu precisa "prosseguir com seus estudos" e que não há risco de fuga — afinal, ele já está respondendo em liberdade.
Mas e a família? Bom, eles não foram consultados. E a promessa de comparecimento às audiências por videoconferência soa, pra eles, como um consolo vazio.
"É como se a vida do meu pai valesse menos que a conveniência dele", desabafa uma das filhas de Valdir, que preferiu não se identificar. A dor, visível, contrasta com a frieza dos autos processuais.
O adiamento que se repete
Esta não é a primeira vez que o júri é adiado. O julgamento, inicialmente marcado para agosto, foi remarcado para novembro — e agora, sem data definida. Motivo? "Necessidade de produção de nova prova pericial", diz o texto judicial.
Traduzindo: mais tempo. Mais espera. Mais angústia.
Um final ainda incerto
Enquanto o estudante se prepara para uma nova vida em São Paulo, a família de Valdir permanece em Campo Grande, alimentando uma dor que o tempo — e as delongas judiciais — não parecem capazes de curar.
O caso levanta questões perturbadoras sobre privilégio, justiça e o valor de uma vida. Será que alguns realmente são mais iguais que outros perante a lei? A pergunta ecoa, sem resposta, nas ruas de Campo Grande.